*Publicado em coletiva.net em 21/03/2022
Presidência da República é destino .
Acreditava que a frase fosse de Ulisses Guimarães, mas já soube de outras
autorias, como Tancredo Neves. O que importa é que a tese contida na frase se
confirmou, por exemplo, com a eleição de Dilma Roussef, em 2010. Até ser ungida
por Lula para concorrer a sua sucessão, apesar do nariz torcido de parte do PT,
dona Dilma não havia disputado sequer uma eleição para síndica. Mas Dilma
estava no lugar certo, na hora certa e tinha um padrinho de peso, que garantiu
o aval partidário e a empurrou para a vitória, apesar do estilo tosco e da
inexperiência eleitoral da candidata.
E o adversário dela, José Serra, que no
cotejo de biografias, estava num patamar bem superior, passará a
história como o potencial melhor presidente que o Brasil não teve. Foi o
destino interferindo no nosso futuro.
Foi assim também na ascensão de Michel
Temer à presidência, após o impeachment
da mesma Dilma, reeleita em 2014, ao superar Geraldo Alckmin, agora fardado
para ser vice de Lula. Neste caso não é destino, mas as voltas que o mundo da
política dá.
Não tenho dúvidas que foi também o destino que conduziu o obscuro ex-governador
de Alagoas à presidência, na primeira eleição após a redemocratização. Havia
opções bem melhores naquela eleição: Brizola, Covas, Ulisses e mesmo Lula, mas
foi Collor, arrancando com 3% das intenções de votos, a quem os deuses
eleitorais sorriram. O resto da história é conhecido. Sem base política e
soterrado por denúncias de corrupção, Collor foi expurgado do Planalto. O
destino levou, então, o vice Itamar Franco à presidência. Por linhas tortas, o
destino acertou e Itamar legou-nos a estabilidade econômica que sustentou as
duas eleições de FHC. Mas sabe quem Itamar preferia para sucedê-lo? Antonio
Brito, que arrepiou e passou a bola para FHC, que estava no lugar certo, na
hora certa, etc, etc. (Com o Plano Real, Itamar elegeria até um poste, que,
convenhamos, não era o caso de FHC nem de Britto).
O caso mais emblemático foi o da definição do vice de Tancredo Neves,
ainda no período da escolha presidencial pelo Colégio Eleitoral. Tancredo
preferia o deputado gaúcho Nelson Marchezan, mas o escolhido foi José Sarney. É
que Marchezan decidiu manter a coerência ideológica e a fidelidade partidária,
não aceitando a indicação. O destino se intrometeu novamente, Tancredo morreu
antes de assumir e acabamos penando seis anos com Sarney.
Corta para 2018. Representante do
minúsculo PSL, capitão reformado do Exército, deputado do baixo claro, Jair
Bolsonaro encarnou o perfil de candidato
“contra tudo o que ai está”, vitaminado pelo atentado que sofreu e uma eficaz campanha nas redes sociais, superou pesos
pesados tradicionais, como Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva, mais o
articulado Fernando Haddad no segundo turno.
Agora o governador Eduardo Leite deve
(deve?) aventurar-se como candidato à presidência da República, tentando furar
a polarização Lula-Bolsonaro, inspirado naquela lógica gauchesca do cavalo
passando encilhado. Vai precisar, porém,
que as mãos do destino interfiram a seu favor, sabendo que os deuses eleitorais
são imprevisíveis, inconfiáveis e sem ideologia.
Além disso, neste período, mais do que
nunca, vale aquela dito do bom mineiro Magalhães Pinto: “Política é como nuvem.
Você olha e ela está de um jeito Olha de novo e ela já mudou”. Será que não é o
destino soprando as nuvens?
Na verdade, o grande dilema de ficar na mão do destino é que destino pode ser
sinônimo de fatalidade ou de boa sorte. O histórico nos mostra que nos casos em
que interferiu na sucessão presidencial o Brasil mais perdeu do que ganhou. É
que destino não tem compromisso com o futuro. Tomara que o futuro nos desminta
no caso da escolha do novo presidente. Oremos!
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