sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A tribo dos fumantes, a polêmica

A jornalista Jandira Feijó é uma das melhores cabeças que conheço. Íntegra até a medula, talentosa, inquieta e uma grande parceira profissional e dos espaços tabagistas. É nestes que, solidários no vício, temos nossos melhores papos. Repicando o artigo “A tribo dos fumantes”, publicado aqui como desabafo de um quase pária da sociedade, a Jandira traz uma contribuição ao debate que não é pouca coisa. Na verdade, trata-se de um libelo de uma mente privilegiada diante da chatice politicamente correta que tenta nos marginalizar. Confira.

"Não daria muitas desculpas, porque, como dizem por aí, “explicações não são necessárias para os amigos e os inimigos não acreditam nelas”. Iria direto ao ponto.

Fumamos porque nos dá prazer, porque nos viciamos, porque talvez tenhamos neurônios de menos ou porque alguns de nossos genes carreguem de forma intensa alguma herança ancestral.

Isto! Gostei desta última hipótese. As perguntas sem respostas nos perseguem de modo muito forte, elas latejam em nós sem que a gente consiga racionalizar. Assim como os homens das cavernas ainda não sabemos o que fazemos aqui, o que é a vida, de onde viemos, para onde vamos.

Necessitamos incontrolavelmente introjetar um pouco de fumaça para suportar o peso desta dúvida existencial.

Isto não nos retira a condição de humanos. Ao contrário. Nos confere muito mais humanidade. Somos sensíveis, frágeis, falíveis e não temos vergonha de assumir este lado meio “emo”.

Admitir tal condição deveria nos assegurar o respeito da sociedade. Entretanto, em algum momento da história alguém conseguiu dividir o mundo entre os politicamente corretos e os meros mortais. Pronto! Foi o que bastou para sermos segregados sem dó nem piedade.

De integrados passamos a apocalípticos. Cidadãos de segunda classe.

Defendo a tese de que somos vítimas de um grande assédio social.

Bullying mesmo!

Uma pressão que tenta afetar nossa auto-estima, que quer reduzir nossa produtividade, que nos imputa uma culpa tão grande quanto a que Igreja quis que carregássemos com o tal pecado original.

O que me angustia é que estamos nos acovardando, quase acreditando na verdade única dos politicamente corretos, dos não fumantes ou, o que é pior, do ex-fumantes histéricos que renegam seu passado. Meu amigo, isto não pode prosseguir assim. Temos que reagir! Nós que lutamos pela democracia, pela liberdade, pelo direito de expressão não podemos sucumbir facilmente a esta perseguição implacável de uma sociedade hipócrita. Senão vejamos: quem se habilita a deixar de recolher impostos e reduzir empregos com a indústria fumageira e tabagista?

É bem verdade que os mal intencionados usariam meus argumentos para justificar outros vícios – socialmente aceitos, como o álcool, e os ilícitos, como o crack! O que eles – os chatos – não compreendem é que não fazemos apologia aos vícios. Somos viciados e viciado que se preze não tenta trazer ninguém para este caminho. Já concordamos em não fumar perto de quem não fuma. Já abrimos as janelas para fumar, já não fumamos nos vôos, nos aeroportos, nos postos de gasolina. Ok, agora chega, né?

Não sei contigo, mas comigo ocorre o seguinte. Acender um cigarro ao invés de ser ríspida, dar uma tragada enquanto conto até mil, fumar simplesmente enquanto “queimo minhas ilusões perdidas” (esta frase maravilhosa é do Mário Quintana) só traz benefícios para as relações em sociedade. Me deixa mais tranqüila, mais tolerante, mais compreensiva. Aliás, por falar em compreensão, não existe pessoa mais solidária do que um fumante. Quando um fumante nega um cigarro a outro fumante? Nunca! Pode ser um completo desconhecido. A empatia é automática. Você compreende o que o outro sente sem que seja preciso dizer uma única palavra!

E fogo? Alguma vez você soube que algum fumante negasse fogo para que outro fumante possa acender seu cigarro? Jamais! Todos sabemos a intensidade do sofrimento de quem está numa situação horrorosa como esta. Tu podes estar no maior sufoco, correndo para não perder um ônibus. Alguém te pede fogo e na hora tu paras! Que gesto mais bonito, solidário, humano! Como é que podem nos condenar de forma tão vil???

Um último exemplo de boa conduta. Fumantes compreendem que alguns queiram deixar de fumar. E não os perseguem, dizendo: “como assim deixou de fumar???” Nada disso. Fumantes respeitam as decisões dos outros. E respeitam tanto que quando resolvem parar de fumar, o fazem com humildade, sem grandes pretensões. Dizemos: “estou sem fumar” e não: “parei de fumar”. Até nisto somos cuidadosos. Sim, porque se dissermos: “parei”, dois segundos depois de ter uma recaidinha logo tem um patrulheiro de plantão pra cobrar: “Como é que é? Voltou a fumar? Mas não tinhas parado?”.

Não quero quotas Flávio! Quero ser como Voltaire e defender até a morte o direito que eles têm de dizer o quê quiserem, mesmo que não concorde com eles. Seria bom se os não-fumantes também defendessem este direito, não te parece?

Abraço, Jandira"

2 comentários:

  1. agora encabulei! abraços e muito obrigada: pelo elogio e pela oportunidade de estarmos trabalhando juntos mais uma vez.

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