As comodidades da vida moderna associadas às agendas apertadas criaram os personals
services: personal trainer,
personal stylist, personal shopper.
Assim mesmo, in english, como
todos denominam tais serviços personalizados.
Pois conhecido amigo nosso acaba de criar uma nova modalidade
customizada: o personal funeral. Segundo a proposta, trata-se de um
profissional altamente especializado em administrar possíveis conflitos naquela
hora em que se pranteia o ente querido que foi para outro plano.
Nosso amigo tem razões de sobra para temer as
reações de ex-parceiras, eis que foi que
um contumaz pulador de cerca, por assim dizer. “Tive uma vida incidentada”,
afirma o safo, dando a entender que cada caso amoroso foi um incidente, num
trocadilho de gosto duvidoso com acidente.
Agora ele imagina que duas situações podem ocorrer, ambas com potencial de se transformarem em
barraco durante o velório: a presença de
ressentidas que vão conferir se realmente desencarnou e a das que se realizaram
plenamente na relação e agora vão dar o último adeus ao falecido. Não descarta, ainda, uma terceira categoria, a das que imaginam conseguir
alguma vantagem material com a situação.
São as mais perigosas, mas mais difíceis de aparecerem, acredita, uma vez que não há muito o que dividir.
Por via das duvidas, contratou previamente uma
personal funeral a fim de fazer frente a todo e qualquer embaraço. Sim, o perfil corresponde ao de uma mulher (“mulher
com mulher se entende”), amiga da mais
absoluta confiança, que já foi devidamente brifada pelo futuro falecido e
estabeleceu um rigoroso planejamento estratégico para a ocasião.
- Não quero que minha família sofra qualquer tipo de
constrangimento quando eu me for, sentenciou o cliente, afetando gravidade na
parte do “quando eu me for” e aparentando uma pontinha de arrependimento.
A personal funeral,
pessoa expansiva no dia a dia, mas muito despachada, compenetrou-se de sua missão e até está
capacitando outras duas amigas para ajuda-la na primeira empreitada e nas
futuras.
- Uma delas vai cuidar das morenas e outra das loiras.
Eu fico com a abordagem e assim vai funcionar nossa operação.
A abordagem, ensina a profissional, é o segredo de
tudo, mas o processo começa com a
identificação da potencial ameaça;
- Moças e senhoras de óculos escuros, daqueles
grandes, vestidas de preto ou com jeans colado no corpo, aí mora o
perigo, esclarece, abrindo o leque das
que devem ser interceptadas.
- A pior situação é se aparecer com criança, ainda
mais se a criança for parecida com o falecido,
acrescenta a personal funeral, mas faz questão de dizer que não é o caso
do nosso amigo.
A estratégia para a abordagem é seguida à risca. A
invasiva é interceptada bem antes de adentrar à capela mortuária e começa
recebendo palavrar de conforto.
- Sabemos que o falecido tinha grande apreço pela
senhora (todas são tratadas por senhora, independente da idade) e pouco antes
de partir nos contou a linda história de amor que vocês viveram e foi quase
como um ultimo pedido que tramitássemos o seu sentimento à senhora. Mas esse é um momento reservado à família e
gostaríamos que a senhora entendesse a comoção dessa hora ,enfim, evitando
qualquer tipo de constrangimento...
A personal
funeral jura que a fórmula vai
funcionar, mesmo para a mais ressentida das ex. “A essas nós contaremos
que o falecido havia confessado seu
arrependimento dos dissabores que lhe
havia causado. Às outras
prometeremos um ato especial só para as despedidas dela, em outro dia. Depois do enterro, missão
cumprida, elas vão esperar sentadas. “
Ao saber dos detalhes desse novo e promissor mercado de trabalho
que se abre admito que fiquei curioso com o resultado pratico da ação, mas logo
afastei a ideia sinistra que implicaria
o passamento do meu amigo. Pesando bem e conhecendo a vida pregressa de alguns companheiros penso em propor sociedade à personal funeral. A demanda vai
ser tanta que acho que vamos enricar.
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