terça-feira, 12 de maio de 2015

Sobre a Ipanema e outras rabugices

Cada vez mais me convenço que o Facebook é um antro de cinismo e dissimulação. O episódio do encerramento da rádio Ipanema, que vai virar Band FM, é simbólico desses comportamentos.  O cara  nunca ouviu a Ipanema ou  deixou de ouvir há séculos, mas  faz postagens lamentosas, jurando amor eterno ao estilo da rádio.  Pior são aqueles sabidamente adeptos do pagode ou do sertanejo universitário convertidos repentinamente em roqueiros ipanemenses.  Ou seja, nunca uma rádio foi tão falada e tão pouco ouvida. E o nosso bom Facebook é o melhor espaço para dar vazão a tais insinceridades.

Teve até empresário lamentando o fim da rádio, os mesmos que não colocaram  um reclame sequer na rádio em qualquer época (“não era o target dos nossos produtos”, é a justificativa), sem contar aqueles que realmente foram fãs da Ipanema lá na sua origem, mas que agora reclamavam do perfil de programação, mais flexível digamos, porém, clamam aos céus pelo “absurdo que está sendo cometido”. 

Fenômeno parecido ocorre quando morre algum luminar das letras, como foi o caso recente de Eduardo Galeano.  Gente que não passou nem perto das orelhas dos livros dele postou fartos elogios à obra do uruguaio, com direito a citações de As Veias Abertas da América Latina, o que não significa nada em termos de conhecimento do autor porque a Wikipédia está aí para ajudar os despossuídos intelectualmente. E vamos combinar que o Facebook, como o papel, aceita tudo.

Pode ser rabugice, mas é que realmente tenho pouca tolerância com os adesistas de ocasião, com os indignados  das causas de boiada, com os maria-vai-com-as–outras do mundo digital,  que nada acrescentam  aos debates,  pois o que buscam  mesmo é um mínimo de protagonismo em cima do tema da hora.

No caso da mudança Band x Ipanema  até me atrevo a entrar cautelosamente no mérito da decisão da empresa e o faço com a legitimidade de quem atuou por mais de 20 anos em rádio (quatro emissoras, três comerciais e uma pública)  e que tem no veículo seu meio de comunicação preferido.  Chamo  a atenção para a realidade do meio rádio, cuja onda AM está morrendo, embora resistindo bravamente no mercado de Porto Alegre com as rádios Farroupilha e Band. A emissora que  não se bandear para o FM, até que ocorra a  migração total para o sistema digital, está condenada a fenecer por falta de ouvintes.  A Gaúcha e a Guaíba já partilham a programação em AM e FM, além de outras plataformas, e a Farroupilha logo deverá fazer o mesmo. É o movimento que a Band, com sua competitiva programação jornalística, faz agora, preservando empregos  e espaços  em toda a rede, já que é o trem pagador das rádios.


A Ipanema faz historia, teve méritos, palmas pra ela, mas virou rádio de nicho e, assim, deixa a desejar na comercialização. E só quem não precisa faturar é rádio estatal porque estas todos nós pagamos para que continuem funcionando.   De mais a mais, a Ipanema não desaparece.  Apenas perde a frequência no dial e quem gosta mesmo de sua programação vai busca-la na internet. Já os oportunistas e falsos ipanemenses vão continuar buzzando no Face.

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