Cada vez mais me convenço que o Facebook é um antro
de cinismo e dissimulação. O episódio do encerramento da rádio Ipanema, que vai
virar Band FM, é simbólico desses comportamentos. O cara nunca ouviu a Ipanema ou deixou de ouvir
há séculos, mas faz postagens
lamentosas, jurando amor eterno ao estilo da rádio. Pior são aqueles sabidamente adeptos do
pagode ou do sertanejo universitário convertidos repentinamente em roqueiros
ipanemenses. Ou seja, nunca uma rádio
foi tão falada e tão pouco ouvida. E o nosso bom Facebook é o melhor espaço
para dar vazão a tais insinceridades.
Teve até empresário lamentando o fim da rádio, os
mesmos que não colocaram um reclame
sequer na rádio em qualquer época (“não era o target dos nossos produtos”, é a
justificativa), sem contar aqueles que realmente foram fãs da Ipanema lá na sua
origem, mas que agora reclamavam do perfil de programação, mais flexível
digamos, porém, clamam aos céus pelo “absurdo que está sendo cometido”.
Fenômeno parecido ocorre quando morre algum luminar
das letras, como foi o caso recente de Eduardo Galeano. Gente que não passou nem perto das orelhas
dos livros dele postou fartos elogios à obra do uruguaio, com direito a
citações de As Veias Abertas da América Latina, o que não significa nada em
termos de conhecimento do autor porque a Wikipédia está aí para ajudar os
despossuídos intelectualmente. E vamos combinar que o Facebook, como o papel, aceita tudo.
Pode ser rabugice, mas é que realmente tenho pouca
tolerância com os adesistas de ocasião, com os indignados das causas de boiada, com os maria-vai-com-as–outras do mundo digital, que nada acrescentam aos debates,
pois o que buscam mesmo é um
mínimo de protagonismo em cima do tema da hora.
No caso da mudança Band x Ipanema até me atrevo a entrar cautelosamente no
mérito da decisão da empresa e o faço com a legitimidade de quem atuou por mais
de 20 anos em rádio (quatro emissoras, três comerciais e uma pública) e
que tem no veículo seu meio de comunicação preferido. Chamo a atenção para a realidade do meio rádio, cuja
onda AM está morrendo, embora resistindo bravamente no mercado de Porto Alegre
com as rádios Farroupilha e Band. A emissora que não se bandear para o FM, até que ocorra a migração total para o sistema digital, está
condenada a fenecer por falta de ouvintes. A Gaúcha e a Guaíba já partilham a programação
em AM e FM, além de outras plataformas, e a Farroupilha logo deverá fazer o
mesmo. É o movimento que a Band, com sua competitiva programação jornalística,
faz agora, preservando empregos e
espaços em toda a rede, já que é o trem
pagador das rádios.
A Ipanema faz historia, teve méritos, palmas pra ela, mas virou
rádio de nicho e, assim, deixa a desejar na comercialização. E só quem não
precisa faturar é rádio estatal porque estas todos nós pagamos para que continuem
funcionando. De mais a mais, a Ipanema não desaparece. Apenas perde a frequência no dial e quem
gosta mesmo de sua programação vai busca-la na internet. Já os oportunistas e
falsos ipanemenses vão continuar buzzando no Face.
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