Sou verdadeiramente fascinado pela pregação dos
evangelizadores dessas igrejas pentecostais.
Fico boquiaberto com a capacidade deles de transmitirem suas mensagens
em nome do Senhor. São máquinas de
falar, equipadas com o que há de mais eficaz em termos de convencimento. Experimentem assistir aos cultos na TV: os
caras conseguem dominar qualquer plateia e fazê-las até mesmo acreditar que os supostos milagres ali apresentados são
reais., que o paralitico voltou a andar,
que o cego recuperou a visão, que a doença abandonou o corpo do sofredor. A força da imagem, todo o colorido dos cenários e a movimentação
durante o culto se curvam quando o verbo se impõe.
Há que se respeitar e temer esse processo, porque não
interessa o que as pessoas estão vendo, mas o poder da palavra, a capacidade de
persuasão. Nossos missionários provavelmente
aprenderam com os tele evangelistas dos Estados Unidos que são mestres na
oratória e na expressão corporal, embora sejam mais sutis na arte de arrancar contribuições
dos fiéis, diferente dos tele pastores tupiniquins, excessivamente agressivos
na dita arte.
No Centro de Porto Alegre eventualmente cruzo com
algum pregador a brandir, Bíblia na mão e sempre engravatados, contra os pecados e os pecadores. Nesse caso, o que me impressiona é o volume
da voz, sempre grave e sonoramente impositiva, enquanto o olhar se dirige ao
infinito, onde talvez esteja recolhido seu deus. Pouca gente presta atenção ao matraquear dessas pregações, porque falta a mística dos templos, mas eles não esmorecem e no dia seguinte
voltam para imprecar contras os males deste mundo pecaminoso.
Concorrência - Acredito mesmo que o crescimento da
cruzada evangélica está diretamente vinculado à força da palavra que emana dos
seus cultos. E assim se espraia uma onda de conservadorismo, ao mesmo tempo em
que outros sinais de poder terreno de sobressaem, como a formação de uma
verdadeira bancada evangélica nos parlamentos, o investimento em templos salomônicos
e em veículos de comunicação ou em
horários nobres nas redes comerciais.
Aqui vale a observação do professor de sociologia da religião da PUC-SP, Edin Abumanssur, que li na Zero Hora de 12/04: “Antes a gente era católico por herança, agora
existe concorrência”. E que concorrência, acrescento eu.
A rigor, não estou sendo original no reconhecimento
do poder do discurso evangélico. Silvio
Santos, dono do SBT e um dos mais festejados
animadores da TV, chegou a afirmar há alguns anos que gravava em fitas
os cultos do líder da Igreja Universal, o bispo Edir Macedo, para ouvir no
carro. “O Edir Macedo me chama a atenção pela forma como fala”, explicou o
homem do Baú. Vale recordar que o bispo
Edir é o proprietário da Rede Record, concorrente do SBT.
Que fique claro que não estou fazendo juízo de valor
sobre a ação das igrejas evangélicas pentecostais e neo pentecostais, se tem
doutrina ou não, mas apenas constatando uma verdade: seus líderes são bons de goela. Eu mesmo acabei sendo envolvido por um deles. Foi assim:
tempos atrás, depois de uma reunião em que tratamos assuntos profissionais, sugeri que o pastor com o qual conversava que
me incluísse nas orações dele. Estava
querendo ser cordial, mas foi a senha para que ele pegasse minha mão e
começasse a reza, invocando os céus numa voz tonitruante:
- Vamos
pedir bênçãos ao senhor Deus agora mesmo! Senhor, protegei este teu filho, que
precisa muito de tuas bênçãos, do teu amor.
Estendei, ó Senhor, tua proteção e tuas graças aos familiares deste teu
filho, a nossa cidade e a seu povo para
que nada de mal lhes aconteça...
Para variar, concordo com a tua abordagem Flávio. São raras as pessoas que, por curiosidade mínima, não acompanharam algum trecho desses programas. A fluência com que os pastores falam, é incrível. Se não cuidar, fica convencido. Parabéns por permitir acompanhar tuas seguras manifestações do dia a dia.
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