terça-feira, 21 de abril de 2015

Futebolês

Claudio Coutinho era um capitão do exercito que participou como preparador físico da vitoriosa campanha do tricampeonato da seleção brasileira no México, em 1970. Depois assumiu como treinador da seleção para a Copa de 78 na Argentina, quando cometeu a sandice de deixar Falcão de fora, em detrimento do brucutu Chicão.  Com certeza essa opção  contribuiu para que o Brasil ficasse fora das finais, se bem que até hoje crescem as suspeitas de que os peruanos arreglaram para os argentinos chegarem as finais e ao título.

Maracutaias e equívocos a parte, Coutinho (gaúcho de Dom Pedrito) deixou sua marca no futebol brasileiro, nem tanto pelo estilo europeu que defendia ,  mas pela terminologia que passou a empregar e que de certa forma renovou o futebolês.  Exemplo é  o overlaping, ou ponto futuro,  que descrevia o procedimento em que o  jogador combinava o lance com um companheiro já se posicionando para receber a bola adiante.  Introduziu também o conceito de polivalência, baseado no futebol  total da Holanda da Copa de 1974, em que cada jogador passava a exercer mais de uma função em campo.

Coutinho estava adiante do seu  tempo, mas foi ridicularizado por uma mídia conservadora, vivendo em sua maioria ainda no tempo do sistema WM ou enaltecendo o 4-2-4 do tempo dos gramofones.  E não teve o devido reconhecimento ao falecer precocemente aos 42 anos quando praticava pesca submarina.

Atuei por mais de 25 anos no jornalismo esportivo e acompanhei de perto a evolução do futebol nesse período e as mudanças na linguagem da crônica esportiva. O rádio, por lidar com a emoção,  é mais grandiloquente. A  imprensa escrita, porém,  modernizou em muito seus conteúdos nas matérias de esportes, desapegando-se da terminologia inglesa que impregnava especialmente a cobertura do futebol  com seus corner, match, team, goal e outros tantos. A TV por seu lado conseguiu livrar-se da influência do rádio e o primado da imagem é que condiciona a linguagem, misto de emoção e texto mais elaborado.

Hoje o futebolês alterna modernidade e singularidades.  Nas  posições dos jogadores talvez tenham ocorrido as maiores mudanças, dos originais ingleses  beck, center half, center foward, para volantes, armadores, alas, passando antes pelos centromédios, laterais, meias,  apelando para a polivalência  na escolha das posições.

O Cláudio Coutinho do futebol moderno incorporou no gaúcho Tite, com seu palavreado que beira a discurseira da autoajuda e conceitos como treinabilidade,  flutuação, potenciar individualidades e outros termos com a marca dos  programas de gestão.  Já os jogadores adoram afirmar que estão focados e os jovens repórteres abusam do termo desconforto que substituiu o que se conhecia por lesão.  O time quando passar a jogar bem encaixou, com  os setores bem conectados. Até a segurança privada nos estádios, isto é, nas arenas, trocou de nome: agora atendem por stewards (guardiões em tradução livre), o que talvez represente um retorno aos termos ingleses originais.

No caso das singularidades nada supera o cascudo e seu sinônimo, rodado, jargões usados para identificar os jogadores experientes,  enquanto  brucutu referido antes  é a ofensa reservada aos jogadores  desqualificados tecnicamente.

Como sou do tempo em que o ponteirinho  ágil era expedito e jogador  negro era colored concluo que o tucanês do Macaco Simão chegou ao futebol.

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