Claudio Coutinho era um capitão do exercito que
participou como preparador físico da vitoriosa campanha do tricampeonato da
seleção brasileira no México, em 1970. Depois assumiu como treinador da seleção
para a Copa de 78 na Argentina, quando cometeu a sandice de deixar Falcão de
fora, em detrimento do brucutu Chicão.
Com certeza essa opção contribuiu
para que o Brasil ficasse fora das finais, se bem que até hoje crescem as suspeitas
de que os peruanos arreglaram para os argentinos chegarem as finais e ao
título.
Maracutaias e equívocos a parte, Coutinho (gaúcho de
Dom Pedrito) deixou sua marca no futebol brasileiro, nem tanto pelo estilo
europeu que defendia , mas pela
terminologia que passou a empregar e que de certa forma renovou o
futebolês. Exemplo é o overlaping, ou ponto futuro, que descrevia o procedimento em que o jogador combinava o lance com um companheiro
já se posicionando para receber a bola adiante.
Introduziu também o conceito de polivalência, baseado no futebol total da Holanda da Copa de 1974, em que cada
jogador passava a exercer mais de uma função em campo.
Coutinho estava adiante do seu tempo, mas foi ridicularizado por uma mídia
conservadora, vivendo em sua maioria ainda no tempo do sistema WM ou
enaltecendo o 4-2-4 do tempo dos gramofones.
E não teve o devido reconhecimento ao falecer precocemente aos 42 anos
quando praticava pesca submarina.
Atuei por mais de 25 anos no jornalismo esportivo e
acompanhei de perto a evolução do futebol nesse período e as mudanças na
linguagem da crônica esportiva. O rádio, por lidar com a emoção, é mais grandiloquente. A imprensa escrita, porém, modernizou em muito seus conteúdos nas
matérias de esportes, desapegando-se da terminologia inglesa que impregnava
especialmente a cobertura do futebol com
seus corner, match, team, goal e outros tantos. A TV por seu lado conseguiu
livrar-se da influência do rádio e o primado da imagem é que condiciona a
linguagem, misto de emoção e texto mais elaborado.
Hoje o futebolês alterna modernidade e
singularidades. Nas posições dos jogadores talvez tenham ocorrido
as maiores mudanças, dos originais ingleses beck, center half, center foward, para
volantes, armadores, alas, passando antes pelos centromédios, laterais, meias, apelando para a polivalência na escolha das posições.
O Cláudio Coutinho do futebol moderno incorporou no gaúcho
Tite, com seu palavreado que beira a discurseira da autoajuda e conceitos como
treinabilidade, flutuação, potenciar individualidades
e outros termos com a marca dos programas de gestão. Já os jogadores adoram afirmar que estão
focados e os jovens repórteres abusam do termo desconforto que substituiu o que
se conhecia por lesão. O time quando passar
a jogar bem encaixou, com os setores bem
conectados. Até a segurança privada nos estádios, isto é, nas arenas, trocou de
nome: agora atendem por stewards (guardiões em tradução livre), o que talvez represente um retorno aos termos
ingleses originais.
No caso das singularidades nada supera o cascudo e
seu sinônimo, rodado, jargões usados para identificar os jogadores experientes, enquanto brucutu referido antes é a ofensa reservada aos jogadores desqualificados tecnicamente.
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