domingo, 1 de março de 2015

Estrategista do amor

O Totonho é um cidadão acima de qualquer suspeita, profissional correto e competente, pai amoroso,  marido exemplar.  Ninguém diria hoje que já foi um devasso, um oportunista do amor.

O passado nebuloso dele veio a tona através do próprio, numa conversa na hora do almoço, naquele interregno entre a salada de folhas verdes e os pratos quentes.  Suas duas acompanhantes ficaram estarrecidas quando ouviram a sentença, pronunciada em tom ligeiramente épico:

Eu fui a primeira vez de muitas meninas. Já marquei a vida de muita gente.

Totonho  não é, digamos, um símbolo sexual, mas deve ter lá seus encantos para ter se constituído em piloto de provas de “muitas meninas”. Só que  a confissão, dita daquela forma e acompanhada de um olhar vago ao infinito, aguçou a curiosidade das duas moças;

- Joinha isso, foi só o que ocorreu dizer uma das acompanhantes, ainda impactada pela revelação. 

- Alguma conhecida? perguntou a mais sorridente, sempre muito interrogativa.

Totonho desconversou, mas não se furtou a contar um pouco da sua estratégia naqueles tempos sem as liberalidades de hoje.

- Pegar mesmo só as feias. As bonitas tinha que namorar muito tempo antes de a gente conseguir algum avanço. Dava uma trabalheira, mas às vezes valia a pena. E aí ficava mais um tempo com a guria...

As moças decidiram reagir,  partiram para a reprovação à atitude e,  como sempre, acabaram envolvendo todo o naipe masculino.

- Vocês homens são f*...Desde cedo são calculistas, premeditam tudo, afirmaram incisivas, quase em  dueto.

Ao me relatarem a história achei mais correto denominar nosso amigo de “estrategista do amor”, um guerreiro capaz de qualquer sacrifício para atingir seu intento. Para reforçar a tese até lembrei que ele me contara,  tempos atrás, a primeira vez em que usara o clichê que hoje está consagrado.

- Fomos flagrados pelo pai de uma parceira em pleno bem-bom. O cara era milico e só me ocorreu dizer: ‘Calma, que eu posso explicar’, antes de ser expulso da casa, só de cuecas e com as roupas embaixo do braço.

Ainda estarrecida com as revelações, a moça de sorriso largo deu margem a que o encontro se prolongasse, talvez querendo empatar o jogo, ao contar as peripécias carnavalescas vividas recentemente no Rio. Mas ai já é outra história porque no seu cérebro continuava ecoando a frase reveladora:

- Eu fui a primeira vez de muitas meninas!



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