Encontro na mesa ao lado aquele amigo que sempre tem
uma história para contar, vivida por ele mesmo ou repassada em segunda
mão. Como de hábito, resolvi indagar:
- E aí, alguma novidade?
- Nem te conto, apressou-se em dizer, como se estivesse
esperando a pergunta.
E de imediato passou a contar detalhes da sua última
conquista amorosa, iniciada com uma conversa despretensiosa pelo Facebook,
inbox, é claro. Ela se apresentou como
publicitária, tinham amigos em comum e aí ele se animou a convidá-la para um
happy. Ela aceitou de imediato, mas no
dia e hora marcados ele não pode comparecer. Uma semana depois, ela cobrou a
renovação do convite e se agendaram para o dia seguinte.
Cheio de expectativas ele se dirigiu cedo para o pub
perto da casa dela, que mesmo assim, estava atrasada. Segue um relato prenhe de
detalhes, um das características dos casos contados pelo nosso amigo:
“De repente surgiu ela, estacionando junto à mesa em que eu esperava. Tinha me distraído com o vai e vem
do trânsito na avenida a frente e foi quase uma surpresa o aparecimento daquela
mulher esguia e alta.
- É tu mesmo? Foi tudo o que e
consegui dizer, enquanto oferecia lugar a ela, numa posição mais protegida na
mesa, como convém a um cavalheiro. De início, ela não entendeu a pergunta (“Ué,
não estavas me esperando?”, indagou). Ocorre que eu não a conhecia, nem por
foto, e o que poderia ser uma manifestação de espanto era, na verdade, uma
exaltação à presença e à imponência dela.
Ainda impactado pela situação, sugeri que bebêssemos e comêssemos algo,
e pra impressioná-la escolhi um clericot
e ela os petiscos. Foi quando comecei a
recuperar a confiança e tomei a iniciativa da conversa, dando conta de quem era
e o que esperava do encontro. Medi bem
as palavras, fiz muitas perguntas para manter a iniciativa, mas ela estava receptiva e o bate papo fluiu,
até que chegou a hora de dar o bote e ai fui mais direto do que devia, um pouco devido
a ansiedade e outro tanto porque a bebida fizera efeito:
- Queria que a gente continuasse essa conversa num motel? O que achas?
Ela olhou sério, no fundo dos olhos, fez uma pausa que pareceu uma
eternidade e com um sorriso e um aceno de cabeça concordou. De imediato senti que estava com uma ereção
em andamento.”
Sempre detalhista,
nosso amigo contou o que podia do
entrevero no motel que ela já conhecia
de outras incursões. Não é o caso de
reproduzir aqui a pegação.
No final da primeira transa, naquele momento de
relaxante aconchego, o parceiro foi surpreendido com uma exigência dela, cláusula pétrea para continuarem a relação, que, aliás, já dura dois anos:
- Preciso saber de duas ou três pessoas a quem possa
telefonar caso te aconteça um piripaque aqui no motel. Sabe como é, a gente excedeu...
Faltou esclarecer que ele era bem mais velho do que
ela e ao dizer que excederam estava
implícito um elogio ao desempenho dele
numa quadra da vida em que a natureza conspira e baixa, por assim dizer, as vontades
e as expectativas. Mesmo assim o
pedido dela era insólito, constrangedor para dizer o mínimo, e capaz de
perturbar a elogiada performance do nosso amigo. Contrariado com o pragmatismo da moça, ele
acabou nomeando dois parentes e um
colega de serviço, garantindo que eram gente da maior confiança, que saberiam
como agir e preservariam a reputação dela e a memória dele.
- Outra coisa, caso aconteça o pior, avisa ao
pessoal que quando eu ligar a senha será ‘o Sol apagou’, não esquece, ‘o Sol apagou’...
Mais do que uma senha, a menção ao astro rei foi recebida como uma homenagem, mesmo
em se tratando de uma situação limite, e deixou nosso amigo reconfortado, cheio de vaidade e ai mesmo é
que excedeu, atuando com brilho cada vez maior, como se sua energia fosse
inesgotável.
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