Foi o sempre atento Carlos Urbim quem postou no Face
a foto da placa de uma rua de Lisboa, que segundo o talentoso escritor, dá medo
de passar. Pudera, o logradouro lisboeta chama-se Rua do Capado.
São coisas
assim que atiçam a minha imaginação. Quem seria o pobre sujeito que teve
extirpado seu órgão? O que teria feito para merecer esse infortúnio? Deve ter
sido algo de magnitude para ganhar uma rua só pra ele. É o tipo da homenagem da
qual eu abriria mão, primeiro pelo motivo que deu causa ao tributo – o único órgão
que admito perder e já perdi é o apêndice; e depois, como bem disse o nosso
Quintana, “um engano em bronze é um engano eterno” – no caso do Capado, um
engano em azulejo português, menos mal.
A postagem do Urbim remeteu-me quase de imediato para o
nome de um espaço público em Porto
Alegre que sempre me intrigou e não poucas vezes foi motivo de piadas de baixa
extração. Trata-se da Travessa Mário Cinco Paus! Fica no centro, entre a
chamada Prefeitura Nova e um prédio do INSS, ligando o final da avenida Borges
de Medeiros ao terminal de ônibus da rua Uruguai. Em tempos idos, já foi um beco, mas recebeu
um trato, foi ajardinado e hoje é local de grande circulação.Isso posto, eis a pergunta que não quer calar: quem foi Mário Cinco Paus, o homem que sempre invejei desde a adolescência, quando só pensava naquilo? Teria mesmo o nosso Mário cinco órgãos genitais? Como funcionariam: em paralelo, se completando, como pistões de um carro, uns subindo outros descendo? Era um homem realizado e de bem com a vida com seu instrumental diferenciado? E as parceiras do bom Mário como reagiam diante de cinco espetáculos do crescimento? E as pobres filhas do Mário, com esse sobrenome invulgar, como devem ter sofrido com brincadeiras de mau gosto, o antigo nome do bulling, nas escolas e outros locais que frequentavam?
Essas indagações, pertinentes e profundas acerca de
um personagem da cidade, me acompanharam até os dias de hoje, quando resolvi
pesquisar para saber quem foi Mário Cinco Paus.
Aí todas as bobagens que imaginei caíram por terra. O Mário Cinco Paus
nada mais era do que um rábula, advogado não formado, que viveu na cidade no
século passado. Ficou famoso pelos júris que defendeu e era apreciado pela
classe jurídica de Porto Alegre. A alcunha que acompanha o sóbrio nome de Mário
seria derivada de sua maestria no
popular jogo do pausinho, que reunia intelectuais, frequentadores da Livraria
do Globo e jovens advogados em animadas
rodadas no Chalé da Praça XV. O dr.Mário costumava limpar seus oponentes no
jogo do palitinhos. No primeiro governo do prefeito Loureiro da Silva (1937 a
43) esta figura quase folclórica foi homenageada com o pequeno trecho de pouco
mais de 30 metros.
A placa de identificação do trecho revela que foi um filantropo,
talvez por falta de outros predicados para ser em destacados, além de algo como
O Rei do Pausinho ou O Mestre do Palitinho. Convenhamos, não ficaria bem.
E lá se foi minha
inveja e meu complexo de inferioridade.
Podes transferir tua inveja para o Manoel dos Santos,o inesquecível (pelo futebol) Garricha, o anjo das pernas tortas e de Pau Grande. Conta o Ruy Guerra que o ponteiro direito do Botafogo e da Seleçao Brasileira não era só natural dessa localidade fluminense como também honraria o nome. Em vez de cinco, talvez um avantajado seja de melhor serventia.
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