Vou agregar a minha galeria de tipos inesquecíveis
mais um: o Colecionador. Vocês já
conhecem o Apaixonado por Panturrilhas, o Tarado por Joanetes, o Deprimido que
foi trocado por uma ideologia e o Ritualista, que sempre manda flores para a ex-amada
no dia que marca o aniversario da
primeira transa. Todos circularam aqui
no ViaDutra mais ou menos recentemente.
Agora O Colecionador vem trazer ao respeitável
público do ViaDutra suas histórias e suas experiências na certeza de que vou
socializá-las. O perfil desse personagem se assemelha ao do Ritualista, pois
venera a primeira vez, o primeiro encontro, a primeira transa. Venera tanto que faz questão de marcar o
evento com um troféu, daí o apelido que ganhou. Tudo começou quando ele
conseguiu vencer a resistência de uma amiga, depois de um longo período de
assédio e, emocionado, pediu para ficar com a calcinha da moça. Diante da
negativa dela, erigiu sua própria cueca da ocasião como a lembrança daquele
momento. O troféu, agora um modelo fora
de moda, está guardado em posição nobre no armário que ele batizou como O
Memorial. Cada peça exposta nessa
espécie de sacrário é acompanhada da data do ocorrido e das iniciais do nome da
parceira da ocasião. “Não ficaria bem expor o nome completo de interposta
pessoa, afinal, alguns dessas situações envolvem casos, digamos, escabrosos”,
explica ele, afetando algo de misterioso nas suas relações.
Tem de tudo na inusitada coleção: uma profusão de
calcinhas pretas e vermelhas, meias com ligas, soutiens de todos os tamanhos,
pelo menos um espartilho, brincos variados, gargantilhas com iniciais no
pingente, botas e sapatos de salto alto e até uma cueca samba canção, que não é a que deu origem ao
acervo. Curioso e maledicente, indaguei sobre aquela peça específica, que
poderia ser resultado de alguma relação homoafetiva, mas a explicação foi convincente: “Tem mulher que
adora usar as cuecas dos maridos ou namorados”.
Mas ficou ainda uma dúvida:
cuecas dos maridos ou namorados?
Aí tem, mas não espichei a conversa, apenas questionei o que motivaria uma
pessoa de hábitos discretos como ele organizar aquele tipo de coleção, com
muita diversidade e uma quantidade de peças de dar inveja. “Sou acima de tudo
um romântico e custo a me desapegar das pessoas, por isso sempre guardo uma
lembrança daqueles momentos especiais que vivemos”, esclareceu, com os olhos
quase marejados pelas recordações que vieram naquele momento.
Não tenho porque duvidar da sinceridade de
propósitos do meu amigo e quase me comovi também, mas ao fim e ao cabo, fiquei
mesmo um tanto deprimido. Puxa, teria
tão poucas peças para colecionar.
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