Na verdade, começam
pelo visionário jornalista as minhas
afinidades com a Feira, uma vez que ele era amigo do meu pai, que o tratava
reverentemente como “dr. Say Marques”; depois
porque tive o privilégio de trabalhar com a filha dele, a competentíssima
Rosana Orlandi, primeiro na TVE e mais tarde na RBS TV, onde produz o Galpão
Criollo; e, por fim, sou obrigado a confessar que estagiei por 30
dias na editoria de Polícia do Diário de Noticias, isso lá no início da década
de 70 do século passado, quando o diretor de redação era o Celito de Grandi, hoje consagrado escritor.
Mas foi quando passei a trabalhar na Folha da Tarde
(juro que nada tive a ver com o fechamento do Diário ou da Folha), acho que em
1974, que comecei a frequentar a Feira regularmente. Da redação na Rua Caldas Junior à Feira era um pulo e não havia
como ficar indiferente às barraquinhas instaladas ao longo da praça. Lembro bem o primeiro livro que comprei. Foi O Príncipe, de Maquiavel, que ainda faz parte
da minha modesta biblioteca e é consultado sempre que necessário, esse verdadeiro manual da arte da política. Línguas
ferinas e adversários invejosos insinuam que adquiri o livro errado, que
estaria a procura de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry e me “principitei"
(sim, com direito a trocadilho) levando O Príncipe. Nego peremptoriamente de
novo.
Com o passar dos anos a Feira cresceu, junto com meu
envolvimento em função de minhas atividades profissionais que me levavam a
participar diretamente de todo o evento nas edições mais recentes. Cresceu
também a minha capacidade e vontade de aquisição de livros. È quase uma obsessão. Alheio a tudo o mais, percorro as barracas a procura dos títulos
que me interessam e esgravato os balaios
de saldos em busca de ofertas e preciosidades. Ainda não bati meu recorde de
três aos atrás, quando levei pra casa mais de 30 livros, entre lançamentos e
saldos, mas este ano já estive duas vezes na praça e adquiri até agora oito
livros, sem contar os cinco infantis que a Maria Clara escolheu e mais A
Metamorfose, da Kafka, para a Santa.
Na categoria lançamentos, comprei Uma História do
Mundo, do amigo David Coimbra, e para outro amigo, o Juremir Machado, não ficar enciumado adquiri
o pocket A Orquidea e o Serial Killer e ainda consegui o autógrafo e dois minutos
de prosa com o autor. Encontrei o
Claudinho Pereira e sua Preta e ele me indicou onde encontrar seu imperdível Na
Ponta da Agulha: no estande da Secretaria Municipal da Cultura, que editou o
livro. Que me perdoem o David e o
Juremir, mas vou dar prioridade para os embalos na noite de Porto Alegre,
relatados pelo Claudinho, testemunha ocular que não precisa de fiador. Faltou o
Cabo de Guerra, do Políbio Braga, que ainda devo buscar na barraca da ARI.
Vão entrar na fila para serem lidos, sabe-se lá
quando e ainda vão disputar espaço com os não lidos do ano passado, os “sebosos”
Minhas Histórias dos Outros, de Zuenir Ventura; Queime Antes de Ler, de
Stansfield Turner; As Ilhas da Corrente,
de Hemingway, Ai de ti Copacabana, de Rubem Braga e Infiltrado, de Robert
Wittmann. Como se vê, um cardápio variado. Agora só falta eu vencer a letargia, largar de mão o Facebook e
o twitter e retomar o saudável hábito da leitura diária. Dai-me forças, Senhor,
que a causa é peremptoriamente boa.
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