É interessante como a política em geral e, em particular, os grandes eventos que mobilizam a nação, sejam escândalos ou não, tem o poder de introduzir modismos vocabulares no nosso dia a dia. Não lembro exatamente quando, mas acho que foi nos estertores da ditadura que surgiu o “casuísmo”, muito bradado pela oposição para denunciar as arbitrariedades e as manipulações dos militares. Não seria tão mais fácil usar “ manobras”?
Mais recentemente ganhou espaço e vários usuários o
termo “republicano”, que tem a ver com a forma republicana de governo, e remete
ao que é público, ao Interesse da Maioria de que trata o Princípio Republicano.
Petista que se preze, na falta de outros conteúdos, adora incluir um “republicano”
nas suas argumentações. Junto veio o "factóide”, que serve para desqualificar
qualquer iniciativa dos adversários, numa aplicação nada republicana do termo,
convenhamos. E “cidadania”, que surgiu fulgurante, acabou
perdendo espaço ao longo do tempo e sua conotação republicana.
Entretanto, o
campeão de todos os novos vocábulos é o “sustentável”, com a variação “sustentabilidade”.
Acredito que a origem da difusão do
termo remonte às pioneiras lutas dos
ecologistas, mas hoje se presta para várias atividades. Já vi anúncio de fábrica de cigarros garantindo que exerce
uma “função sustentável na economia”.
Outro dia num dos tantos debates eleitorais assisti a um dos candidatos,
com ar grave, perguntar a um opositor qual a sua posição sobre “ o desenvolvimento
harmônico sustentável aplicado às
cidades”. O adversário, coitado, se embananou todo para responder uma bobagem
qualquer, enquanto o questionador fazia cara de “desta vez, te peguei, babaca!”. Mais incrível foi a cantada que flagrei num
happy, numa mesa vizinha: “Quem sabe a gente parte agora para uma prática
sexual sustentável”, convocou o sujeito para sua acompanhante, que devia saber
do que se tratava porque logo levantou e escapuliu bem faceira com parceiro.
Isso me faz lembrar o já falecido presidente da
Federação Gaúcha de Futebol, Rubens
Hofmeister, tão dinâmico como pouco letrado, que denominava os clubes que
jogavam em seus estádios como "locatários”, que, na verdade, é quem aluga,ou
seja, o inquilino e não o proprietário.
Mas os tais de "locatários” apareciam até nos regulamentos do
campeonato.
Como não sou avesso a evolução do idioma e invisto no
incremento do vocabulário pessoal, tenho adotado sem restrições todas as
novidades. E até me permito a fazer variações, criando conceitos como “dosimetria
republicana sustentável” ou “sustentabilidade casuística locatária” ou ainda “factóide locatário republicano”.
Êita , erudição.
Justo o que eu procurava sobre dosimetria
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