Em algum lugar do passado ouvi do técnico Ernesto
Guedes sobre a situação do Botafogo: “É
uma torcida e um saco de uniforme”. O
exagero do técnico, que recém havia
dirigido o time carioca, me incomodou
muito, eu que sou botafoguense desde pequenino. A verdade é que o simpático Fogão desafia os
astros, a lógica, a realidade e, entre altos e baixos, sobrevive e se renova. Só que vivia um dos tantos momentos de baixa
quando o Ernesto por lá passou.
Minha paixão pelo Botafogo nasceu no dia em que
ganhei de Natal um jogo de futebol de botão do tipo panelinha, com aquela
estrela solitária aplicada sobre os botões.
Para o menino de 10 anos só uma bola poderia ser um presente
melhor. Era também o tempo em que o
Botafogo rivalizava com o Santos como
grande time brasileiro e uma das bases da seleção canarinho, campeã do mundo em
1958 e 62. O Santos tinha o talento coroado de Pelé e o Botafogo a magia de
irresponsável de Garrincha e mais meu ídolo
Nilton Santos, além de Didi,
Quarentinha, Zagalo, Amarildo e, antes, o grande Heleno de Freitas, e tantos
outros craques que ficaram na história. Ainda é o clube que mais forneceu jogadores
para seleção brasileira em copas do Mundo.
Mais tarde descobri que o Glorioso, como também é
conhecido, era o time preferido da maioria dos gaúchos que migravam para o Rio.
Não consegui descobrir a razão dessa preferencia
de gremistas e colorados expatriados, mas ela é real e, se precisar, cito
quantos exemplos forem necessários. Nos meus tempos de repórter esportivo
descobri também que havia uma ativa torcida organizada do Botafogo em Porto
Alegre. Desconheço se ainda existe, mas
em se tratando do Fogão, não duvido.
Mantenho uma paixão à distância, quase platônica,
pela Estrela Solitária, tanto assim que não me lembro de ter assistido a qualquer
jogo da equipe em estádio. A razão dessa
idealização talvez esteja na percepção que o Botafogo passa, nem popularesco
como o Flamengo e o Vasco, nem metido a elitista como o Fluminense, mas
afetando uma nobreza que o distingue dos seus pares cariocas. Este é o meu
Botafogo, que acompanho desde que me conheço por gente. É uma trajetória de altos e baixos, como a venda do patrimônio do estádio de
General Severiano e da sede do Mourisco que representaram também a perda
parte da identidade botafoguense,
as boas fases com os títulos nacionais (1968 e 95) e o recorde de
invencibilidade (52 jogos entre 1977 e 78), a queda para a segunda divisão (que
sina a minha!) e agora o retorno glorioso, como o cognome do clube, com três
rodadas de antecedência.
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