Está aberta a temporada de chatices de fim de ano.
Com isso é cada vez maior o numero de pessoas que se deprimem, ficam
melancólicas nesta época e admitem
publicamente que detestam as chamadas festas natalinas. O número de desgostosos cresce na proporção
direta em que o comércio antecipa suas campanhas de Natal, para vender mais e
quanto mais cedo melhor. Os shoppings,
esses templos do consumo, se enfeitam como se disputassem um campeonato de ornamentação natalina.
Particularmente já curti menos o Natal, mas voltei a
me entusiasmar por causa das netas Maria Clara e Rafaela. Natal é a grande festa da criançada que adora as tais casas do Papai Noel nos
shoppings , mesmo que os pequeninos ainda se assustem com o velho gordo, de
barbas brancas e vestido de vermelho. Mas, como diz minha faceamiga Monica
Goulart, acabar com a fantasia das
crianças é crime inafiançável.
Eu prefiro olhar as assistentes do personagem, mas não pensem que é um olhar cúpido, nada de
más intenções, apenas um gesto fraterno de solidariedade, creiam-me, às moças que lidam com crianças irrequietas
ou assustadas e pais ansiosos. Pois
é assim que se estabelece o ciclo que vai
impulsionar ao consumo: atraindo a criança para o ambiente repleto de ofertas
de produtos e serviços é inevitável que os mais velhos sejam levados ao ato da
compra. Os números variam conforme a
pesquisa, mas de 50 a 60% dos brasileiros admitem fazer compras por impulso. E a roda da economia anda.
Frequentar os shoppings nessas circunstâncias não é
a pior chatice do período. Tem coisas
que nem o CD natalino da Simone ou o show do RC conseguem bater em termos de
malice. O noticiário esportivo, por
exemplo, se esmera em nos torturar com teses sobre o (mau) desempenho dos
nossos clubes e as especulações sobre reforços e dispensas. E
quando tem eleição em clube o pessoal se supera no vai e vem das candidaturas,
como se fosse uma eleição verdade, a influir nas nossas vidas e nos nossos
futuros. E as retrospectivas repletas de
pequenos e grandes dramas; e as previsões para o próximo ano, repletas de
obviedades. E os comerciais piegas; e a programação de fim de ano das TVs. Ah, e
tem a festa da firma e o inevitável
Amigo Secreto, que por si só já
mereceriam uma boa dose de Prozac.
É quando sobrevém aquele sentimento de impotência e
incompetência pelo que foi plabejado e não realizado. Sempre fica algo para
trás, inconcluso, desafiador, a debochar da nossa capacidade de entrega, como
se os 12 meses passados não fossem mero
recorte de um tempo que prossegue, um tempo em que nem tudo precisa ser renovação, mas sim
um espaço para continuidades e retomadas.
Relaxemos, pois, porque há vida após o Natal . O
ciclo recomeça logo adiante, na passagem para mais um ano, uma etapa que como
as outras anteriores e as que virão nada mais é do que representação de uma convenção. Perdão pelo reducionismo, mas é simples
assim. Portanto, não precisa forçar a alegria.
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