Fim de ano é um período infernal para frequentar
restaurantes. Nos almoços, nos jantares ou num simples happy é inevitável enfrentar
na mesa ao lado alguma confraternização de fim de ano da firma ou a própria festa da
firma. Observador atento que sou, sei
distinguir logo a confraternização, um ritual mais ligeiro, da festa da firma,
que exige uma produção mais requintada. Tanto assim que na festa as moças se
apresentam invariavelmente em seus pretinhos básicos ou nas modernosas
roupinhas com estampas tigradas. Todas
de banho tomado, maquiagem e cabelos
caprichados, olhar do tipo “é hoje!” e sobraçando o embrulho com o presente do
Amigo Secreto. Sim, porque confraternização
ou festa de firma que se preze tem que ter Amigo Secreto, com cerimônias de
entrega plenas de algazarras – um mico para os mais austeros, entre os quais me
incluo.
E segue a fuzarca, em alguns casos interrompida pelo
discurso do “Homem”, o chefão que banca a festa e vai agradecer aos “nossos colaboradores
pela dedicação e a superação dos desafios”. A frase é tão previsível como o inconveniente de fim de festa, que tomou
uma a mais, acha que é o
gostosão do pedaço e passa a tirotear em todas as colegas. Como sou rodado já vi de tudo nesses ocasiões.
A propósito de rodado,
no último episódio do qual fui testemunha da série “festa da firma na mesa ao lado” o tema
recorrente entre as moçoilas, predominantes no caso, era um texto publicado na Folha de São Paulo
com o sugestivo título “Você é uma mulher rodada?” (www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/12/1564090-voce-e-uma-mulher-rodada).
Confesso que fiquei enrubescido com o pouco que pude ouvir das quase senhoras,
que eu arriscaria dizer de conduta ilibada.
Pelo que entendi trata-se
de um questionário, resposta irônica e bem humorada ao machismo, com indagações
do tipo “Já fez sexo no primeiro encontro?”, “Já fez sexo no primeiro encontro mais
de uma vez?”, “Não sabe quantos
parceiros teve na vida”, “Na verdade, nunca contou”. Essas, eu diria, eram as questões mais civilizadas. Não
resisti, agucei o ouvido e me arrependi
porque as moças, quase senhoras, começaram a pegar pesado nos questionamentos
que caracterizam a mulher rodada. Coisas do tipo: “Transou com estrangeiros na
Copa?”, “Transou com colegas de trabalho na festa da firma?” “Já fez canguru
perneta”, além de uma que me deixou chocado – “Transou com anão” - e outra muito intrigadíssimo – “Já teve (tem)
um PA e recomenda”.
PA? O que indicaria a sigla? Quase abandonei minha
posição de ouvidor passivo e fui perguntar às ocupantes da mesa ao lado, mas recuei eis
que sou um tanto desprovido no quesito altura e minha presença poderia ser
interpretada como o tal anão da transa, um anão oferecido que, se utilizado,
resultaria em pontos extras rumo a mulher rodada.
Ao deixar o restaurante e a algaravia das moças, sai
angustiado com o desconhecimento que persiste quanto ao significado de PA. Não me arrisco a dar qualquer outro significado
que não o verdadeiro e talvez seja
condenado a ficar eternamente com essa dúvida, castigo para deixar de ser
abelhudo. E aí, veio a surpresa final, quando uma das moças, quase senhora,
disparou em alto e bom som:
- Tirando transar com anão, me enquadro em todas as
outras questões!
Apressei o passo para me afastar logo do local. Vamos que
a moça estivesse interessada em completar a série, convocando um anão...
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