Passaralho pra quem não sabe é um ser da mitologia
do jornalismo, mas de forma mais rasteira pode ser descrito como um pênis com
asas. O bicho assombra as redações em períodos de demissões em massa, pousando
na mesa ou bicando a bunda dos selecionados para a degola, tipo aviso prévio.
Neste momento o passaralho sobrevoa as redações do
principal grupo de comunicação do Estado e já tem até o número dos que ficarão
desempregados, conforme comunicado oficial da direção da empresa: 130
profissionais vão para um mercado já saturado e em recessão.
Nos tempos em que era atuante em veículos,
normalmente em um chefia intermediária, sobrevivi a muitos passaralhos e em uns
poucos tive o dissabor de precisar comunicar às vítimas que elas estavam na
relação dos dispensáveis. Invariavelmente ouvia dois questionamentos, para os
quais não tinha resposta adequada: “Qual o motivo? Por que eu?” Era um momento
terrível, mas muito pior para quem recebia a notícia de que deveria procurar o
RH para tratar da sua rescisão.
A maioria havia dado o melhor de si para a empresa
e agora era rejeitado, numa relação que uma
das partes, ingenuamente, imaginava que seria para sempre. As empresas,
diferente das pessoas, não tem alma, mesmo assim tentam mascarar com uma
linguagem diferenciada o que nada mais é que um pé na bunda do trabalhador,
pomposamente chamado de colaborador.
Esse processo ganha nomes sofisticados, como downsizing,
reposicionamento, redirecionamento ou
mesmo renovação, como é o caso presente.
A verdade é que cada posto de trabalho que se vai,
cada profissional que perde o emprego, cada enxugamento nas redações fragiliza nossa crença no Jornalismo como forma de expressão da sociedade e macula o que ainda nos
resta de vocação. E só o que nos cabe - e
o que mais dói - é uma inútil solidariedade
Perfeito!
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