domingo, 3 de agosto de 2014

Historias da mesa ao lado: A Modista

A mesa ao lado é farta em histórias. As fontes advertem: todas são verdadeiras, mas os nomes são fictícios para não comprometer ninguém.

É assim o causo que nos foi contado por amiga de fé,  testemunha ocular e auditiva dos fatos.  Sucede que o gauchão se enamorou de uma moça prendada, uma modista muito requisitada na comunidade. Para quem não sabe as modistas, especialmente no interior, tinham muito prestígio ao produzirem os vestidos que as madames usariam nas festas nos clubes bem frequentados da cidade. Modista que se prezasse não repetia vestido, cada um era peça única para as  matronas não passarem vexame diante de um eventual figurino clone.

Pois,o nosso gauchão passou a ser cliente e usuário da modista. Cliente através da sua mulher e usuário nas visitas cada vez mais frequentes que fazia à casa da moça, após as sessões de costura e provas das roupas das suas freguesas. O gauchão estava apaixonado e rogava aos amigos para comparecer as churrascadas dominicais com a rapariga.

- Dona Ema, o que a senhora acha de eu trazer a modista aqui, de modo a apresentar pro pessoal, indagou de uma das esposas dos parceiros  com a qual tinha alguma liberdade para tratar de um assunto tão delicado.

- De jeito nenhum. Tua esposa já veio aqui contigo outras vezes e vai ficar muito chato tu aparecer de repente com outra rapariga, repeliu dona Ema, que era uma liberal, mas nem tanto.

Entretanto, a  vida dupla quase levou o gauchão à falência e ele decidiu abrir o capital da empreitada, propondo uma espécie de sociedade ao mais graduado dos parceiros.

- Robertão,  tu conhece a modista, moça bonita, prendada e gosta da coisa. Até estou dando conta do recado, mas tu sabe, né, a safra não foi boa e eu fiquei endividado. E a modista gosta dum mimo tanto quanto daquilo e está difícil contentar a moça, se é que me entendes.

E depois do rodeio, foi direto ao ponto:

- Robertão, quem sabe a gente, por assim dizer, compartilha as despesas com a  modista, cada um vai um dia, cada um com seu copo de uísque e seu mate, sem misturança. O que tu acha?

O gauchão levou um corridão, não porque o Robertão não gostasse de um entrevero de vez em quando, mas não era homem de “compartilhar” suas chinocas, mesmo com um amigo de fé.

Desenxabido, o proponente chegou em casa e deu um ultimato à esposa:


- Minha véia, vamos ter que parar de frequentar o clube. A crise tá braba e  esse negócio de fazer um vestido para  cada festa não vai dar mais. Daqui a pouco não vou ter dinheiro para pagar a modista...

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