A mesa ao lado é farta em histórias. As fontes
advertem: todas são verdadeiras, mas os nomes são fictícios para não
comprometer ninguém.
É assim o causo que nos foi contado por amiga de fé,
testemunha ocular e auditiva dos
fatos. Sucede que o gauchão se enamorou
de uma moça prendada, uma modista muito requisitada na comunidade. Para quem
não sabe as modistas, especialmente no interior, tinham muito prestígio ao
produzirem os vestidos que as madames usariam nas festas nos clubes bem
frequentados da cidade. Modista que se prezasse não repetia vestido, cada um era
peça única para as matronas não passarem vexame diante de um eventual figurino clone.
Pois,o nosso gauchão passou a ser cliente e usuário
da modista. Cliente através da sua mulher e usuário nas visitas cada vez mais
frequentes que fazia à casa da moça, após as sessões de costura e provas das
roupas das suas freguesas. O gauchão estava apaixonado e rogava aos amigos para
comparecer as churrascadas dominicais com a rapariga.
- Dona Ema, o que a senhora acha de eu trazer a
modista aqui, de modo a apresentar pro pessoal, indagou de uma das esposas dos
parceiros com a qual tinha alguma
liberdade para tratar de um assunto tão delicado.
- De jeito nenhum. Tua esposa já veio aqui contigo
outras vezes e vai ficar muito chato tu aparecer de repente com outra rapariga,
repeliu dona Ema, que era uma liberal, mas nem tanto.
Entretanto, a vida dupla quase levou o gauchão à falência e ele decidiu abrir o
capital da empreitada, propondo uma espécie de sociedade ao mais graduado dos
parceiros.
- Robertão,
tu conhece a modista, moça bonita, prendada e gosta da coisa. Até estou
dando conta do recado, mas tu sabe, né, a safra não foi boa e eu fiquei
endividado. E a modista gosta dum mimo tanto quanto daquilo e está difícil contentar
a moça, se é que me entendes.
E depois do rodeio, foi direto ao ponto:
- Robertão, quem sabe a gente, por assim dizer, compartilha
as despesas com a modista, cada um vai
um dia, cada um com seu copo de uísque e seu mate, sem misturança. O que tu
acha?
O gauchão levou um corridão, não porque o Robertão
não gostasse de um entrevero de vez em quando, mas não era homem de “compartilhar”
suas chinocas, mesmo com um amigo de fé.
Desenxabido, o proponente chegou em casa e deu um
ultimato à esposa:
- Minha véia, vamos ter que parar de frequentar o
clube. A crise tá braba e esse negócio
de fazer um vestido para cada festa não
vai dar mais. Daqui a pouco não vou ter dinheiro para pagar a modista...
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