Dias atrás, por dever de ofício, frequentei uma redação de jornal no efervescente horário do meio da tarde.
Sabe aquela sensação de que havia algo errado no ambiente? Só na saída, depois dos contatos mantidos, é
que me dei conta do que incomodava, martelando meu cérebro: a redação estava
repleta de gente, com quase todas as posições de repórteres e editores
ocupadas.
Aí me bateu uma nostalgia dos meus tempos de jornal,
quando no meio da tarde os repórteres saiam as ruas para cumprir suas pautas ou
fazer a cobertura dos seus setores. Apenas o pessoal da cozinha ficava na
redação e na Editoria de Esportes da ZH, onde mais atuei, era comum o editor da
área acompanhar o repórter à campo e, assim, ter uma visão mais real das matérias
que editava. Essa era a orientação do
nosso editor Emanuel Mattos, que nos deixou recentemente. Também por orientação
dele os editores bancavam repórter e sazonalmente produziam matérias, que era
uma forma de dar exemplo para a gurizada e manter-se antenado e reciclado.
Vida real em
jornalismo é fundamental e isso só se consegue na rua e no contato
pessoal com as fonte, olho no olho. O que se observa hoje é primado do telefone
para os contatos com as fontes e quase o fim da função de setorista, aquele
repórter que se especializada em determinada atividade, frequentava diariamente seu setor. Parece que
isso sobrevive ainda na editoria
esportiva?
Claro que essa proximidade também podia produzir
alguns problemas, como uma cumplicidade nefasta entre as partes, mas era
fundamental para que o repórter conhecesse a fundo os assuntos do seu setor e
quais as melhores fontes procurar sobre determinadas temas. Também não sou a favor do exagero das
editorias de esportes de antanho que escalavam no mínimo dois setoristas todos
os dias para cobrir os principais clubes, mesmo porque o enxugamento porque
passam as redações não permitiria esse luxo hoje.
A especialização até permanece, com repórteres
focados em política, trânsito, saúde, cidade, obras públicas e até obituários,
mas falta profundidade no tratamento das questões, muito achismo, teses
pré-concebidas e aquela sensação de que o ambiental não está presente. Em
resumo: reportagens de retaguarda,
cheias de números e grafismos, mas sem
conexão com a vida lá fora. Eu quase falei em matérias com um quê de
arrogância, mas deixa pra lá.
Minha desconfiança é que esse processo também está
contribuindo para o crescente desinteresse do público pelas mídias
tradicionais, o que está impactando especial e dramaticamente os veículos
impressos. Sou formado pelo jeito antigo
de fazer jornalismo, mas não vou bancar o saudosista, pois talvez todo esse
contexto atual, ao fim e ao cabo, seja evolução e não retrocesso. Tomara, mas não resisto em declarar: bons
tempos aqueles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário