Já confessei aqui neste Descaminho que sou
fascinado por aqueles retalhos de conversas ou frases soltas que ouço nas incursões atléticas matinais pelo calçadão de
Ipanema. Minha audição não é
qualificada, às vezes não sei distinguir um tango de um samba canção, mas tenho
ouvidos apuradíssimos para sons e palavras próximas. Ok, sou abelhudo mesmo e assumo. Herança dos tempos do repórter que um dia
fui.
Pois, nas minhas deambulações tenho ouvido
verdadeiras pérolas dos outros passantes, normalmente diálogos entre parceiros
de caminhada. Sentenças como essa, de um corretor de imóveis para o picareta de
automóveis, ambos meus conhecidos de outras andanças : “Tem neguinho ai
que gosta de ver marmanjo se agarrado no tal de UFC. Eu prefiro me agarrar com
mulheres”. Ou essa, do tiozinho, impecável no seu abrigo Adidas branco: “Por
aquela mulher eu abandonava o lar por umas 12 horas: uma hora para ficar com
ela e as outras 11 para me recuperar física e moralmente.” Fiquei com curiosidade para conhecer tal
lambisgóia.
Outro dia fui parado por um amigo que vinha em
sentido contrário e me fulminou com uma frase, antes de seguir adiante, em
passo firme: “Caríssimo, antes a gente conversava sobre mulher. Hoje fala de
exames médicos e remédios.” Nem tive tempo para a réplica, que talvez fosse de
concordância.
Também reflexiva foi essa lamentação que capturei en
passant: “ Estamos mal de ídolos. Antes a torcida era pelo Senna, agora é pelos
BBBs. Eu fora!” Quase fui atrás para me
associar ao reclamo.
Mas a mais instigante de todas as frases foi a que
ouvi na semana passada, sem que conseguisse identificar o que representavam os
caminhantes: “Não fui indiciado na CPI e não apareci nas conversas gravadas
pela PF. Sou um merda, mesmo!”
A que ponto chegamos! Talvez seja a hora de
apelar para aquilo que já ouvi em algum lugar, não
necessariamente na babel do Calçadão:
- Agora só me resta a massagem tântrica!
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