quinta-feira, 17 de maio de 2012

Aflições de um marido exemplar

Meu bom amigo Diogo* é um cara de múltiplos interesses e atividades  variadas,  que o levam a ser alvo de tentações a todo o instante.  Até mesmo nas proximidades da sua base profissional mais efetiva, no momento,  ele tem recebido ofertas as mais ousadas e desinibidas possíveis, de serviços e pessoas muito profissionais.  Coisas do tipo Love Point (“para homens de bom gosto”), Vip Class (“realize suas fantasias”), Brazil (sim, com z) Privê (“ambiente discreto e climatizado”), Casarão (“o melhor privê de Porto Alegre), Super Top (“mais de 20 gatas”),  Carmen’s Club (este dispensa apresentações)  e todo o tipo de massagens, inclusive à domicilio.  As ofertas são apresentadas em pequenos folhetos distribuídos aos passantes, ou colocados nos vidros dos carros e invariavelmente ilustrados com moças dotadas de belos calipigios. Chama atenção que são aceitos todos os de cartões de crédito das mais conceituadas instituições bancárias.

E o que o bom Diogo tem a ver com isso? Muito pouco,  a não ser o fato de que ele tem sido vítima constante dos distribuidores dos tais prospectos eróticos, tanto assim que já se questiona se não passa a impressão de que está com saudade da coisa ou, o que é pior, aparenta ser uma pessoa devassa,  ávida para desfrutar momentos  de luxuria nesses mal afamados locais. Homem de boa índole, marido amoroso, cidadão de conduta exemplar, o coitado do Diogo se martiriza com a situação.
O martírio dele, diante das tentações, se agrava quando desempenha outra atividade, recepcionando delegações do exterior, autoridades ou empresários que aqui aportam  em busca de negócios.  O trabalho é gratificante, mas coloca nosso amigo em cada saia justa que vou te contar. Recentemente ele precisou reservar acomodações para cinco estrangeiros  e como todos os hotéis estavam lotados a solução foi contratar apartamentos em um motel da zona leste, depois de muita conversa com o gerente explicando a origem dos hóspedes e a emergencialidade da hospedagem.  Tudo acertado,  à noite Diogo voltou ao motel para apanhar os estrangeiros e levá-los para jantar.  À saída do estabelecimento , com a sua van carregada dos estrangeiros, um grupo de homens altos, fortes, quase gigantes de ébano,  foi surpreendido por um casal de idosos que passava pelo local. Diogo ainda tentou afetar naturalidade, mas pode ouvir claramente quando o homem comentou com a mulher:

- Pouca vergonha, como permitem uma coisa dessas aqui na vizinhança?!
Pior foi a resposta da senhora:

- Como ele aguenta esse montão de homem?!
Apesar do reconhecimento dos visitantes ao acompanhante,  expresso em  animados discursos  durante o jantar, Diogo estava transformado em um farrapo humano, lembrando o casal de idosos e suas insinuações sobre o que teria acontecido no recôndito do motel.

De outra feita, igualmente recebendo um grupo de estrangeiros, o mais saliente dos visitantes insinuou que gostaria de conhecer uma casa noturna cuja fama chegara a sua terra, transmitida por viajantes que o precederam.  Num inglês enrolado deu a entender que era o  Gruta Azul,   conceituado estabelecimento que, eventualmente, permite que as belas moças que transitam pelo local sejam cooptadas para programas, como direi...,mais movimentados.
Pedido insinuado, pedido realizado e lá se foi nosso amigo ciceronear o grupo no Gruta Azul.  Antes, deixou claro que não ficaria para a noitada, porque, como já sabemos,  não era homem dado a frequentar esses lugares.  A desculpa para os gringos foi outra, mas antes de deixá-los instalados num camarote vip, fez mil recomendações ao gerente, exigindo que fossem tratados como realezas e recebessem do bom e do melhor.

Diogo confessa que foi pra casa com aquela  ponta de desassossego a perturbá-lo. Aquele bando de estrangeiros soltos no Gruta, bebida à vontade, as moças rondando e ninguém para controlar...Margem de risco enorme.
O sono custou a vir e, quando chegou, foi entrecortado por despertares em sobressalto.  Até que o telefone tocou na madrugada e ele prontamente atendeu.  Do outro lado da linha, ouviu um coro:

- Diogo, Diogo, Diogo! Thank you, Diogo. Obrrrigado, Diogo. Diogo, Diogo, Diogo!
O nome dele, pronunciado daquela forma e com sotaque estrangeiro, foi um momento emocionante, embora o coro fosse poluído por gritinhos femininos ao fundo.  Pelo jeito, era uma fuzarca e tanto!

Pelos serviços prestados e a atenção dispensada aos visitantes, Diogo assumira a condição de ídolo, só que estava bloqueado para aproveitar as benesses decorrentes das suas relações internacionais.  Por isso, consciente das suas aflições, lamentava-se no dia seguinte, repetindo uma frase que já está virando bordão:
- Agora só me resta aderir à massagem tântrica.

*Nome fictício, por razões óbvias.


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