quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A primeira noite de um homem

A história me foi contada em uma dos tantos convescotes que tenho freqüentado nesse período sabático. Portanto, há testemunhas confiáveis. Sucede que um dos parceiros de mesa, entre um chope e outro, resolveu fazer algumas confidências de sua vida amorosa. A mais interessante, sem dúvida, foi quando revelou como foi sua primeira transa. Ali pelos 17, 18 anos, freqüentava a boate de um dos clubes instalados as margens do Guaíba, pelos lados da zona sul. À época, era comum os clubes oferecerem as tais boates a seus associados e convidados, normalmente sábados à noite, quando se reunia uma fauna variada ao som dos hits musicais do momento. Bebia-se muita cerveja e os mais avançadinhos puxavam um fuminho, que era o máximo de transgressão para aqueles tempos .


Nosso amigo pertencia à base da pirâmide, diferente de hoje quando é um bem-sucedido profissional da comunicação. Vivendo de sua parca mesada, era obrigado a ficar só na cerveja, uma ou duas por noite, no máximo, para pegar embalo, sacolejar sem medo do ridículo na pista e ganhar coragem para chegar nas moças.

Naquela noite primaveril estava ele a bebericar solito sua cerveja no restaurante do clube quando se aproximou aquele monumento em forma de mulher. Alta, esguia, morena, olhos esverdeados e vestindo um macacão de couro, bem justo, delineando as formas que beiravam a perfeição. Enfim, uma mulher para ser apreciada sem moderação.

- Posso beber da tua cerveja, perguntou ela, ao abordar nosso surpreso amigo.

- Cla-ro, gaguejou ele em resposta.

Dois copos depois, por iniciativa dela, já estavam na área externa, quase junto ao rio (na época o Guaíba atendia por rio), compartilhando um espaço transgressor com outros casais e o pessoal que lá estava para fumar maconha.

Ele já estava excitadíssimo com a situação quando ouviu o som que até hoje marca suas melhores lembranças amorosas.

- Eu ouvi aquele craaaack e era a deusa abrindo a parte de cima da roupa de couro e em seguida o resto, enquanto eu tentava me ajeitar para desfrutar aquele corpão. Então, ela se entregou pra mim, comandando a transa!

Ao revelar essa passagem, após quase 30 anos da cena erótica, nosso amigo silenciou por um instante, engoliu em seco e seus olhos ficaram marejados diante de tão gratificante lembrança.

A mesa ficou solidária com o parceiro, mas como se tratava de um grupo de jornalistas, arriscamos pedir mais detalhes do ocorrido. Ele, porém, preferiu uma postura discreta, como quem se protegesse de intrusos a lembrança que o emocionava.

Acrescentou apenas que foi um transa intensa, mas fugaz e que, em seguida, voltaram a boate para dançar, até que chegou um marmanjo e arrastou a moça, deixando nosso amigo solitário novamente.

No início, ele se frustrou com o desfecho do caso (“Eu já esta a apaixonado”), até se dar conta de que tinha vivido um momento mágico, mesmo que nunca mais tivesse encontrado sua benfeitora sexual. A primeira transa, mesmo estranha como a relatada, não se esquece e, para quem gosta do jogo, abre caminho para novas e saudáveis atividades do gênero.

Ao escutar a história do amigo, inevitavelmente lembrei-me das tantas primeiras noites vividas e, num misto de saudosismo e melancolia, pensei cá comigo: Era bom!

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