*Publicado originalmente em 1º de fevereiro de 2011, mas continua valendo.
O Papa
vai para Castel Gandolfo, o presidente americano para Camp DavId, a realeza
inglesa para Balmoral, enquanto eu, mais modesto, me refugio em Curasal no
verão. Traduzindo, um pequena praia entre Curumim e Arroio do Sal, no litoral
Norte. Chama-se Âncora e tem direito a placa indicativa na Estrada do Mar, um
pouco antes da entrada para a Grande Arroio do Sal.
No início, chamava-se praia Bento Gonçalves, o que denuncia origem dos seus primeiros veranistas. Na verdade, é uma das tantas praias acima de Capão da Canoa dominada pelo pessoal da Serra - Caxias, Bento, Flores da Cunha, Veranópolis, Garibaldi e outras mais, alem do reforço de gente de Canela e Gramado. Arroio do Sal é o centro da chamada Gringolândia, que só faz crescer impulsionada pelas facilidades de acesso da Rota do Sol.
Há cerca de 20 anos visitei Âncora pela primeira vez e já me apaixonei. Desde então reservava pelo menos 15 dias das férias para ancorar, com o perdão do trocadilho, entre os gringos. Até que, movido por um impulso, acabei adquirindo um modesto rancho a três quadras do mar, num investimento que quase me levou a falência. É que não dei ouvidos às advertências de que casa na praia só garante dois momentos prazerosos: quando a gente compra e quando se livra dela, de resto é só despesa e capital empatado. Não sou tão radical, mesmo porque desenvolvi uma relação afetiva com o lugar.
Espetada entre Figueirinha e Marambaia, Âncora se resume a uma avenida central e duas outras ruas em direção ao mar, cortadas por quatro ruas paralelas. Além da Interpraias, floresce a zona nova, coisa de praia metida a grande, mas região carece de urbanização, diferente do núcleo principal onde quase todas as ruas tem calçamento, iluminação e água tratada. As ruas receberam nomes inspirados na Revolução Farroupilha, homenageando Bento Gonçalves e Davi Canabarro, entre outros, ou extraídas do lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Quatro ou cinco casas ostentam piscinas, entre as quais a de dois parentes próximos, coisa bem boa. O hotel à beira mar, remodelado, é a grande atração, mas já viveu dias mais animados quando recebia os veranistas do Sesc, o boliche funcionava e as comerciárias se entrosavam com os nativos. O único boteco da praia fechou e agora o abastecimento é feito necessariamente nas praias próximas. A garotada, quando quer fervo, vai a Arroio do Sal, cuja noite tem lá seus encantos. Já eu prefiro as noites mansas da minha Curasal, embaladas pela sinfonia desafinada de sapos e grilos.
Conviver com os gringos é uma experiência antropológica, mas não chega a ser novidade para mim, casado com uma caxiense – santa criatura que me aguenta há 35 anos. De início o gringo é sestroso, mas depois de conquistado não há limites para a sua generosidade. Não há limites também para sua capacidade de devorar churrascos e galetos, enquanto entornam hectolitros de cerveja ou vinho ou caipirinha ou qualquer bebida com mais de 4% de teor alcoólico. O estereótipo é o Radicci, pelo traço talentoso do Iotti.
O esporte preferido do gringo é a pesca, mas observo que o número de pescadores e equipamentos de pesca em ação à beira mar não corresponde ao de pescados... Grande parte dos gringos que conheço se intitulam também adeptos das caçadas e tenho ouvido histórias fantásticas de grandes aventuras atrás de presas que se converterão em manjares inigualáveis. E eles ainda tem coragem de me convidar para essas empreitadas. Eu fora.
O gringo adora o mar. Faça chuva ou faça sol, lá se planta a família inteira na beira da praia, nonos e nonas juntos, chimarrão correndo a roda e depois a caipirinha, conversa animada naquele sotaque carregado, risos soltos e algazarra da criançada na água, numa saudável farofada. A pele branca desafia o sol e os trajes de banho, masculinos e femininos, afrontam os modismos, mas eles não estão nem aí.
Outra característica marcante do gringo é competir em tudo. A casa tem que ser melhor do que a do vizinho, o carro mais potente e é assim, na base da santa inveja e rivalizando pelo melhor, que a Gringolândia cresce. E quando o assunto é futebol, sai de perto, porque o Gringo sempre tem lado: ou torce para o Zuventude e tem um inclinação pelo Grêmio, ou para o Cassias e não esconde sua preferência pelo Inter.
Enfim, são tutti buona gente.
No início, chamava-se praia Bento Gonçalves, o que denuncia origem dos seus primeiros veranistas. Na verdade, é uma das tantas praias acima de Capão da Canoa dominada pelo pessoal da Serra - Caxias, Bento, Flores da Cunha, Veranópolis, Garibaldi e outras mais, alem do reforço de gente de Canela e Gramado. Arroio do Sal é o centro da chamada Gringolândia, que só faz crescer impulsionada pelas facilidades de acesso da Rota do Sol.
Há cerca de 20 anos visitei Âncora pela primeira vez e já me apaixonei. Desde então reservava pelo menos 15 dias das férias para ancorar, com o perdão do trocadilho, entre os gringos. Até que, movido por um impulso, acabei adquirindo um modesto rancho a três quadras do mar, num investimento que quase me levou a falência. É que não dei ouvidos às advertências de que casa na praia só garante dois momentos prazerosos: quando a gente compra e quando se livra dela, de resto é só despesa e capital empatado. Não sou tão radical, mesmo porque desenvolvi uma relação afetiva com o lugar.
Espetada entre Figueirinha e Marambaia, Âncora se resume a uma avenida central e duas outras ruas em direção ao mar, cortadas por quatro ruas paralelas. Além da Interpraias, floresce a zona nova, coisa de praia metida a grande, mas região carece de urbanização, diferente do núcleo principal onde quase todas as ruas tem calçamento, iluminação e água tratada. As ruas receberam nomes inspirados na Revolução Farroupilha, homenageando Bento Gonçalves e Davi Canabarro, entre outros, ou extraídas do lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Quatro ou cinco casas ostentam piscinas, entre as quais a de dois parentes próximos, coisa bem boa. O hotel à beira mar, remodelado, é a grande atração, mas já viveu dias mais animados quando recebia os veranistas do Sesc, o boliche funcionava e as comerciárias se entrosavam com os nativos. O único boteco da praia fechou e agora o abastecimento é feito necessariamente nas praias próximas. A garotada, quando quer fervo, vai a Arroio do Sal, cuja noite tem lá seus encantos. Já eu prefiro as noites mansas da minha Curasal, embaladas pela sinfonia desafinada de sapos e grilos.
Conviver com os gringos é uma experiência antropológica, mas não chega a ser novidade para mim, casado com uma caxiense – santa criatura que me aguenta há 35 anos. De início o gringo é sestroso, mas depois de conquistado não há limites para a sua generosidade. Não há limites também para sua capacidade de devorar churrascos e galetos, enquanto entornam hectolitros de cerveja ou vinho ou caipirinha ou qualquer bebida com mais de 4% de teor alcoólico. O estereótipo é o Radicci, pelo traço talentoso do Iotti.
O esporte preferido do gringo é a pesca, mas observo que o número de pescadores e equipamentos de pesca em ação à beira mar não corresponde ao de pescados... Grande parte dos gringos que conheço se intitulam também adeptos das caçadas e tenho ouvido histórias fantásticas de grandes aventuras atrás de presas que se converterão em manjares inigualáveis. E eles ainda tem coragem de me convidar para essas empreitadas. Eu fora.
O gringo adora o mar. Faça chuva ou faça sol, lá se planta a família inteira na beira da praia, nonos e nonas juntos, chimarrão correndo a roda e depois a caipirinha, conversa animada naquele sotaque carregado, risos soltos e algazarra da criançada na água, numa saudável farofada. A pele branca desafia o sol e os trajes de banho, masculinos e femininos, afrontam os modismos, mas eles não estão nem aí.
Outra característica marcante do gringo é competir em tudo. A casa tem que ser melhor do que a do vizinho, o carro mais potente e é assim, na base da santa inveja e rivalizando pelo melhor, que a Gringolândia cresce. E quando o assunto é futebol, sai de perto, porque o Gringo sempre tem lado: ou torce para o Zuventude e tem um inclinação pelo Grêmio, ou para o Cassias e não esconde sua preferência pelo Inter.
Enfim, são tutti buona gente.
Deu saudade do mar.
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