Tenho alguns hábitos, quase fetiches, em termos de consumo que me acompanham há alguns anos e que, com o passar do tempo, procuro refinar. Camisas azuis, de preferência quadriculadas, fazem parte dos fetiches. Diante de alguém envergando tal peça do vestuário não hesito em perguntar onde adquiriu e quanto custou. E, confrontado com o mostruário das lojas, vou direto às azulzinhas quadriculadas, até ouvir a corneta da Santa: “Camisa azul, de novo!!!”.
Nas gôndolas de vinho nos supermercados não tenho sofrido reprimendas quando adquiro, uma vez sim e outra também, aquele tinto encorpado que vai me dar prazer, cálice à cálice. Minha adega caseira é modesta em quantidade, mas tento preservar a qualidade, sem chegar ao exagero do Renato Machado, aquele âncora da Globo, segundo o qual vinho bom deve custar mais de 100 dólares!
De um tempo para cá, adquiri novo fetiche: canecas. Tudo começou quando amigas doces e meigas me presentearam com uma caneca personalizada, onde apareço de forma caricata com uma xícara de café numa mão e um cigarro na outra. Até hoje não entendi se era uma homenagem um uma censura. A verdade é que, a partir daquele mimo inicial, minha coleção se multiplicou e o canecódromo aqui de casa já conta com mais de 100 peças, de todos os tamanhos e formas. A cada viagem novos e diferentes tipos de canecas são acrescentadas, sem contar as que recebo de presente, como a mais recente incorporada ao acervo, a que a minha nenê Mariana me trouxe de Buenos Aires
Já os livros não são um fetiche, mas uma obsessão. Entrar numa livraria é um martírio: gostaria de adquirir todos os lançamentos ofertados, auto-ajuda fora. O que me atormenta é que não teria recursos, nem tempo para curtir tudo e fico frustrado porque deixarei muitas histórias e novos conhecimentos para trás.
O que me levou a escrever este texto foi exatamente o dilema que estou enfrentando: em algum momento perdi o hábito da leitura diária, substituído pelas incursões na internet, sessões de vídeo caseiro e necessidade de produzir trabalhos profissionais e acadêmicos. Na cabeceira da cama repousam, à espera do leitor ávido que fui, pelo menos cinco livros, do "Marketing 3.0"", de Philip Kotler, ao "Filé de Borboleta", de Luiz Coronel, passando pela coletânea "24 Letras por Segundo", pelo "Sob o Céu e Agosto", de Gustavo Machado e pelo "Vozes da Legalidade", do Juremir Machado. Houve um tempo em que traçava meia dúzia de obras, partes de um e de outro a cada dia, mas hoje mal comecei a leitura dos atuais livros de cabeceira, sem contar os mais de 30 que comprei nas duas últimas feiras do livro e outros tantos que ganhei e que estão na fila, intocados na prateleira e entristecidos pelo descaso.
Vem ai mais uma Feira do Livro e, apesar de tudo, vou circular entusiasmado pelas barracas, esgravatar nos balaios e, certamente, adquirir um lote de livros que estão condenados a fazer companhia aos outros desprezados pela indiferença. Um dia me reencontro com todos eles.
Que bosta
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