Nem tudo é limitação na chamada terceira idade. Aos 6.1, motor original queimando só um pouquinho de óleo, começo a gostar das benesses que as políticas públicas reservam para os que chegam a essa quadra da vida. Por exemplo, pelo segundo ano consecutivo recebo minha restituição do Imposto de Renda já no primeiro lote. Não é grande coisa, mas já ajuda para pagar as contas e fazer um ranchinho. Preferia que o Leão me isentasse de descontar o IR, mas enfim, não dá para querer tudo na vida.
Outra vantagem são as vagas para idosos nos estacionamentos. Confesso que de início eu ficava cheio de dedos ao estacionar nos espaços reservados nos supermercados e shoppings, mas a comodidade acabou vencendo o constrangimento. Como as vagas são de bom tamanho, isso evita o xingamento que ouvi, tempos atrás, ao tirar um fininho do carro de um garotão.
- Cuidado aí, velho barbeiro!
Velho tudo bem, mas barbeiro não admito. Como sou de paz e o jovem era do tipo fortinho, deixei a provocação pra lá. Mas magoei.
Em compensação, meu ego foi massageado quando me submeti a vacina “de grátis” contra a gripe num dos postos de saúde da prefeitura.
A gentil atendente perguntou minha idade e quando declinei os 6.1 ela foi categórica e acho que sincera:
- Não parece, eu daria bem menos idade ao senhor.
Tirante o “senhor”, fiquei bem faceiro com a avaliação da moça e vou pleitear uma promoção para ela junto ao secretário Casartelli.
Mas nem tudo são flores nessa jornada que insistem em chamar de melhor idade. Outro dia fiz uma pesquisa com meus iguais, perguntando quantos remédios tomavam, além daquele comprimido azul: três foi a média e todos começaram a exaltar as qualidades das suas panacéias – uma chatice, coisa de velho. Terceira idade é isso: a alegria dos laboratórios. Pior são os veteranos que decidem freqüentar as academias de ginástica. Além dos comentários maliciosos sobre as moças das esteiras com seus abrigos colantes, vivem a se queixar de dores aqui e ali, mas não se entregam: “Estou me sentindo outro homem, depois que comecei a puxar ferros”, garantem, numa linguagem mais adequada a outras faixas etárias.
Enganação maior só mesmo as filas de bancos para os caixas especais: andam tão morosamente como as dos pobres mortais. O curioso é que antes dos 60 recebia invariavelmente a senha para os caixas especiais, ficava p. da cara, mas não devolvia e agora tenho sido selecionado para os outros guichês. Será que estou rejuvenescendo?
E tem ainda a meia passagem no transporte coletivo e o meio ingresso no cinema, benefícios que ainda não aproveitei. O que tenho utilizado com freqüência é a prerrogativa de falar as maiores sandices, anunciar grandes besteiras, discorrer sobre teses absurdas, apresentar soluções inviáveis, tudo isso sem ser contestado. Essa “autoridade” decorre da combinação da idade com os cabelos brancos, que garante uma aura de credibilidade às bobagens apregoadas. Mas não me invejem. Trocaria tudo por alguns desatinos que deixei de cometer e pela repetição de outros, muito prazeirosos, na fase em que ainda não era tratado de senhor.
Adorei o texto, e apesar de eu ter 44 anos, fiquei pensando que deveriam ter leis da segunda idade, kkk! Já reparou que todo mundo fala dos adolescentes e dos já passados dos 60 e nem lembram que para sair de uma fase pra outra tem a segunda idade? Abs,
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