terça-feira, 7 de junho de 2011

Não me provoca, Jandira

Minha caríssima amiga Jandira Feijó me desafiou a escrever sobre “o novo paradigma do marido moderno, que precisa passar sua própria roupa e cozinhar muito bem, porque só ir ao supermercado não segura casamento”. Copiei literalmente para não dar margens a outras interpretações. A boa Jandira, além de competente jornalista e uma entusiasta das redes sociais, é uma provocadora nata. Igual a outra querida amiga, a Mirian Bravo, que de brava não tem nada, mas defende com bravura seus argumentos, com o pedido antecipado de perdão pelos trocadilhos forçados com o nobre sobrenome.

Estaria eu, com essa conversa mole, fugindo ao desafio proposto pela Jandira e reforçado por uma mensagem da Mirian, a propósito do texto “Casamentos em risco” ? Pode ser, mas é preciso levar em conta que as duas tem lá suas razões quando o assunto são os papéis do homem e da mulher na vida a dois na sociedade moderna. E preciso encontrar argumentos civilizados, sem abdicar das minhas teses e sem criar novas polêmicas.


Na verdade, no texto anterior alertei para dois fatores que podem, sob a ótica masculina, colocar em risco até mesmo o mais estável dos casamentos: a conta bancária conjunta e os pedidos das mulheres a seus maridos quando estes estão retornando ao lar. Não pretendia inticar com ninguém, muito menos com as senhoras, apenas fazia um alerta, repito. E mais: esperava que do outro lado viesse uma lista interminável de itens e situações que desagradam às mulheres nos procedimentos dos homens enquanto maridos. Coisas como fazer xixi sem levantar a tampa do vaso, ficar inconveniente depois da segunda cerveja, preferir assistir na TV aos jogos da segundona ao invés do palpitante capítulo da novela, falar mal da sogra e dos cunhados, isso pra ficar no basiquinho. Mas minhas expectativas foram frustradas. Pelo jeito as gurias não querem polemizar.

Em relação ao “novo paradigma do marido moderno”, sugerido pela Jandira, devo reconhecer que, de fato, os homens estão assumindo cada vez mais atividades que antes eram exclusividade de suas mulheres. A diferença é que os homens assumem o novo papel com alegria e espontaneidade, diferente das mulheres que se queixam do fardo da lida doméstica. Diria mais : ao colocar a mão na massa os homens transformam o corriqueiro em arte e o melhor exemplo é a gastronomia. Não é por outra razão que os grandes chefs são homens. Assim, não nos assusta dividir as tarefas do dia a dia, o que fazemos prazerosamente. Acho mesmo que só perderemos o prazo de validade quando as mulheres conseguirem abrir os vidros de conserva...

*Em homenagem à provocadora Jandira e às palpiteiras Mirian, Bibiana, Laura, Maura e Fernanda, musas do Facebook. 

Um comentário:

  1. Caríssimo Flávio

    Teus textos, impecáveis, traduzem com fidelidade esta vocação para enticar – uma palavra que, aliás, remonta a minha infância e me obriga a ver que os anos passaram, mas, felizmente, nem tu, nem eu, perdemos a alma moleque. E já que o tema é a estabilidade dos casamentos, não existe a possibilidade de evitarmos a polêmica. Senão, vejamos.

    Garotos adoram implicâncias. Desde cedo vocês se especializam nisto, assim é natural que este comportamento, ao longo do tempo, ganhe novos contornos e se expresse no casamento sob a forma refinada da acomodação e do bullying conjugal.

    Quem, a não ser vocês, os meninos, conseguiriam enticar com tal maestria a ponto de transformar as meninas em senhoras rabujentas?

    Para ficar no basiquinho, “fazer xixi sem levantar a tampa do vaso, ficar inconveniente depois da segunda cerveja, preferir assistir na TV aos jogos da segundona ao invés do palpitante capítulo da novela, falar mal da sogra e dos cunhados” e se gabar que cozinham melhor e com maior prazer do que as mulheres são meras manifestações da inclinação atávica masculina para enticar.

    É óbvio que os homens passam por uma profunda crise de identidade. Já não sabem qual o seu papel na sociedade moderna. E como acreditam que a natureza os definiu como os mais capazes provedores, executores de tarefas nobres (como definir o destino da humanidade), “trazer também palitos e guardanapos” e abrir vidros de conserva, admitam, passa a dar sentido a sua existência.

    Ah, mas enticar é preciso! E, como garotos precisam demonstrar que são “os caras”, vocês descobriram um jeito de diabolizar suas dedicadas esposas: vocês enticam e elas rabujam. Quer crueldade maior do que esta? É bullying conjugal, meu caro amigo.

    Por fim, um pequeno comentário sobre a conta conjunta. Boas alunas, as mulheres compreenderam logo que a conta conjunta é de fato um problema, por isto, nos casamentos modernos, elas não cometem o erro de compartilhar suas contas com os maridos – uma espécie de vingança contra aqueles extratos mal explicados por esposos de outrora!

    Prá encerrar, um “versinho” numa demonstração de que não guardamos mágoas:

    “o homem é um diabo,
    não há mulher que o negue,
    mas todas elas querem
    que o diabo as carregue”

    Abraços, Jandira

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