Depois de três anos da última viagem, acabo de retornar de Buenos Aires e me quedei mais encantado ainda pela cidade. Invejo aquelas largas avenidas, as praças cheias de monumentos, a profusão de bares e restaurantes, o comércio efervescente, que minimizam uma certa má vontade dos portenhos em relação aos visitantes, especialmente os brasileiros.
Observei que a cidade está mais limpa, tem menos moradores de rua e pedintes, mas cresceu o número de camelôs, disputando espaço com pedestres e junto ao comércio legalizado, mas convivendo pacificamente, sem qualquer forma de repressão . Aliás, observei pouca policia nas ruas, o que talvez justifique as recomendações para que se redobre os cuidados em determinados espaços e horários. Ressalto que nossa delegação não teve qualquer problema. Éramos um bando de 12 pessoas, um grupo heterogêneo que incluía desde criança de colo, como a Maria Clara, a veteranos como eu.
O pretexto da viagem era visitar minha filha Mariana, que está morando, trabalhando e estudando temporariamente em Buenos Aires e vai bem, obrigado. Suspeito, entretanto, que a principal motivação de grande parte do grupo foi fomentar o comércio exterior e contribuir para equilibrar a balança comercial entre os dois países. É impossível descrever tudo o que comprou essa gente! Com o real valendo em média 2,40 pesos não deu pra resistir às ofertas, ainda mais que o comércio anunciava grandes “rebajas”, o Liquida Porto Alegre deles. Os melhores preços, é claro, eram das lojas de calçadas e tudo que os consumidores vorazes buscam pode ser encontrado na Florida, Lavalle e imediações, no centro de Buenos Aires.
Não preciso dizer que se come e se bebe otimamente em Buenos Aires, independente do local escolhido. Nosso grande festim gastronômico aconteceu no La Bisteca, em Puerto Madeiro, (na frente do complexo de cinemas do Cinemark), que já conhecíamos de outra viagem. O conceito do La Bisteca é “cozinha de alto nível, sem limites”, o que significa um magnífico buffet com ilhas de saladas, massas, sopas, frios, grelhados e sobremesas. Visitamos tudo, sem moderação, eventualmente prostrados de joelhos . Para acompanhar, um malbec de Mendoza, da melhor qualidade. O preço por pessoa, sem o vinho e outras bebidas, não chega a 80 pesos, pouco mais de 30 reais, (custo para sextas-feiras e fins de semana, porque durante a semana o preço é menor). Fica a dica.
Para circular pela cidade, nada melhor que o táxi, que é baratíssimo, a frota é grande e está renovada. Aproveitava as viagens de táxi para pesquisar um pouco sobre o que pensam os argentinos. Como se sabe, os taxistas, no leva e traz de passageiros, são formadores de opinião por excelência. O próprio taxi, por si só, é uma mídia, na medida em que transitam no veículo muitas informações, de várias procedências. Pois bem, a principal constatação é de que os taxistas amam Lula tanto quanto amam Maradona e a maioria aposta que Cristina Kirchner será reeleita presidente e vai votar nela. Lula é idolatrado pelo reconhecimento do bom momento vivido pela economia brasileira que se reflete no movimento turístico argentino, com ganhos para todos os setores envolvidos, aí incluídos os taxistas. A idolatria só cresceu quando o governo brasileiro impediu o reabastecimento em portos nacionais de um navio inglês que rumava para as Malvinas. O gesto calou fundo nos argentinos que até hoje consideram as ilhas como parte do seu território, acumulando ressentimentos em relação aos “invasores” ingleses.
- Viva Lula, Viva Cristina, chegou a gritar um taxista argentino mais expansivo, que nos conduzia noite à dentro pela capital portenha.
O primeiro turno na Argentina está marcado para 16 de outubro e, como a pesquisa entre os taxistas é referendada pelos institutos, Cristina tem boas chances de ganhar de primeira. Ela está com pelo menos 30 pontos de vantagem sobre qualquer dos outros adversários, entre eles o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, segundo colocado nos levantamentos de intenção de votos. Além disso, a atual presidente se sustenta num índice de popularidade de 60%, mesmo que em Buenos Aires esse índice caia para 29%. A campanha ainda não esquentou, mas Buenos Aires já apresenta cartazes de todos os candidatos.
O grande embate da presidente, na verdade, é contra o jornal Clarim, o mais importante da Argentina, que em todas as edições estampa manchetes denunciando atos de corrupção n o governo. É o contra-ataque do jornal contra as pressões do governo sobre a mídia em geral e o Clarim em particular. Reina grande expectativa sobre os desdobramentos do caso, especialmente quanto ao seu impacto nas eleições.
Como observação final, fica a constatação de que Buenos Aires é uma dos destinos preferidos para o turismo gay. Homens e mulheres, de todas as idades e todas as procedências, circulam com seus parceiros e parceiras na maior naturalidade, sem se incomodarem com alguns olhares atravessados. No exterior, o pessoal se solta. A quantidade de gays e lésbicas só é menor do que os pacotes de compras dos turistas. A propósito, já estou com urticária aguardando a fatura do cartão de crédito, se bem que Buenos Aires vale uma extravagência.
Bravo! Enfim um original Flávio Dutra! E muito inspirado. Neste inverno estarei em Baires também.
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