quinta-feira, 3 de março de 2011

Carnaval da mesmice

*Publicado originalmente em 12/fevereiro/2010, mas está valendo

Está aí o Carnaval, que os antigos chamavam de Tríduo Momesco, e já me preparo para a repetição das mesmas imagens, dos mesmos chavões, nas coberturas televisivas. As telinhas serão invadidas por aqueles horrorosos bonecos gigantes de Olinda e o repórter Francisco José, na sua aparição anual na TV, vai fazer os mesmos comentários sobre a empolgação do Galo da Madrugada, a história do Homem da Meia Noite e da Mulher do Dia, e por aí vai. O cabeça branca Francisco José já deve ter decorado o texto, de tanto repetir as mesmas ladainhas sobre as mesmas imagens.


Corta para Salvador e lá aparece a procissão de Trios Elétricos e as mesmas figurinhas carimbadas sacolejando sobre os palcos móveis com a massa frenética pipocando lá embaixo, suando nos seus abadás. E muita louvação ao Chiclete com Banana, Osmar e Dodô, Timbalada, Olodum e outros menos votados.

No Rio e em São Paulo, o repeteco não é muito diferente. Os enredos mudam e mostram novidades, mas a cobertura televisiva não apresenta diferenciais. Ao contrário, evoluiu em tecnologia, mas falta aquela sacada, aquele algo mais. Com um agravante: o naipe de comentaristas, gente da melhor estirpe, não consegue emitir uma opinião conclusiva ou mais contundente, como se avaliar criticamente o resultado do trabalho dos carnavalescos fosse um crime de lesa cultura. E o que vemos é uma profusão de efeitos especiais para mascarar a mesmice da transmissão burocrática, que não expressa a verdadeira dimensão da grande festa popular.

Aqui, vou ser obrigado a conviver com duas pautas obrigatórias que se repetem todos os anos. Uma é a do Rebanhão, aquele pessoal que prefere fazer retiro durante o Carnaval e orar pela redenção dos pecadores e bota pecado nisso. Parece que estou vendo o repórter fazendo seu boletim na igreja ali do Cristal, tendo ao fundo os fiéis, mãos erguidas aos céus, entoando hinos sacros e muitas rezas. A outra é o Carnaval no barro, de Santa Bárbara do Sul. Vocês já devem ter visto as cenas do pessoal todo enlameado, por isso vou me abster de outras considerações.

Diante deste quadro estou pensando em sugerir aos pauteiros, chefes de reportagens e editores que poupem energia e recursos. Busquem nos arquivos as imagens desses eventos em anos anteriores e coloquem no ar, pode até repetir o texto, que vai dar na mesma.

De minha parte, já decidi: este ano vou me refugiar e curtir minha rabugice em Curasal, uma prainha entre Curumim e Arroio do Sal.

Um comentário:

  1. Estou, igualamente refugiado em meu sítio. Sem cobertura de carnaval via tevê. Inadvertidamente, acompanhei um pedacinho de matéria... Poderia ser em qualquer ano. Coisa chata!

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