*Publicado nesta data em coletiva.net
Há quem torça o nariz para os trocadilhos, mas eu os
considero uma arte, que pratico eventualmente, é bem verdade que sem o talento
de alguns companheiros. Todos eles são jornalistas, gente acostumada a lidar
com as palavras, suas sutilezas e
rearranjos, que vão resultar num inspirado trocadilho ou nem tanto.
Considero o Valtair
Santos, repórter esportivo das antigas, como o patrono dos trocadilhistas da
tribo da comunicação. A participação dele nas jornadas esportivas da Rádio
Gaúcha eram pontuadas de trocadilhos, que variavam dos bem criativos aos
absolutamente infames. E assim fez escola e gerou uma infinidade de seguidores
entre os jornalistas, dos quais destaco o saudoso Plinio Nunes * que, além de
grande conhecedor da língua pátria, era um trocadilhista sagaz e ardiloso, no
sentido de que todos os diálogos com ele
desembocavam num jogo de palavras. Era também o caso de outro militante da
causa, que igualmente nos deixou tão cedo, o Jorge Estrada, cujo sobrenome já
permitia várias nuances e ele abusava delas.
O trocadilho é uma
prática simples, mas exige um mínimo de criatividade na troca de palavras e
letras que modificam o significado original da palavra, despertando o humor de
quem lê ou ouve. Pode ter rimas ou não e, na maioria das vezes, resulta numa
contradição, como no clássico exemplo
“gosto de café, a Cláudia Leite”. Nomes
próprios facilitam a trocadilhação, se é que existe o termo, que, aliás, se presta
para um trocadilho, só não me ocorre como. No entanto, essa facilidade acaba
nivelando por baixo a criatividade que se exige de um trocadilhista máster da
nobre arte. Coisas do tipo, “voce coloca
gasolina no seu carro, o Vin, Diesel” , “Uso havaianas, o Tomb, Rider”, “Meu
casaco é de veludo, o do Bob Dylan”, “Prefiro Chapolin, o Hugo, Chaves”. Ai vira besteirol, como estes outros: “O padre
bateu o carro dando uma rezinha...”, “a vaca foi para o espaço para se encontrar
com o vácuo”, “quando o Papai Noel morrer ele não estará mais em trenós”. Argh!
Pra falar a verdade nem sei se os exemplos representam trocadilhos, mas troco
em diante assim mesmo.
Apesar dessas indignas
produções, mantenho a arte trocadilhesca em alta na minha preferência e, com o
perdão dos leitores, encerro com o
clássico dos trocadilhos, o trocadilho do trocadilho, o trocadalho do carilho,
ou seria o trocarilho do cadalho?
*Plinio Nunes, falecido
este ano, nos legou uma obra prima, que
a Associação Riograndense de Imprensa/ARI viabilizou, editada pela Farol 3 com
o apoio da Prefeitura de Gravataí: o livro “À Crase, os meus respeitos!”,
um manual bem didático para consultas
não só sobre a maldita crase, mas também sobre a virgula, o hífen e todos os
porquês. O livro foi o mais vendido na banca da ARI na Feira do Livro e agora
pode ser adquirido pela Farol3 Editores em www.farol3.com.br
. Toda a renda da comercialização irá para a família do Plinio.
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