terça-feira, 16 de novembro de 2021

Trocadilhação

*Publicado nesta data em coletiva.net

Há quem torça  o nariz para os trocadilhos, mas eu os considero uma arte, que pratico eventualmente, é bem verdade que sem o talento de alguns companheiros. Todos eles são jornalistas, gente acostumada a lidar com as  palavras, suas sutilezas e rearranjos, que vão resultar num inspirado trocadilho ou nem tanto.

Considero o Valtair Santos, repórter esportivo das antigas, como o patrono dos trocadilhistas da tribo da comunicação. A participação dele nas jornadas esportivas da Rádio Gaúcha eram pontuadas de trocadilhos, que variavam dos bem criativos aos absolutamente infames. E assim fez escola e gerou uma infinidade de seguidores entre os jornalistas, dos quais destaco o saudoso Plinio Nunes * que, além de grande conhecedor da língua pátria, era um trocadilhista sagaz e ardiloso, no sentido de que todos os diálogos  com ele desembocavam num jogo de palavras. Era também o caso de outro militante da causa, que igualmente nos deixou tão cedo, o Jorge Estrada, cujo sobrenome já permitia várias nuances e ele abusava delas.

O trocadilho é uma prática simples, mas exige um mínimo de criatividade na troca de palavras e letras que modificam o significado original da palavra, despertando o humor de quem lê ou ouve. Pode ter rimas ou não e, na maioria das vezes, resulta numa contradição, como no clássico  exemplo “gosto de café, a Cláudia Leite”.  Nomes próprios facilitam a trocadilhação, se é que existe o termo, que, aliás, se presta para um trocadilho, só não me ocorre como. No entanto, essa facilidade acaba nivelando por baixo a criatividade que se exige de um trocadilhista máster da nobre arte. Coisas do tipo,  “voce coloca gasolina no seu carro, o Vin, Diesel” , “Uso havaianas, o Tomb, Rider”, “Meu casaco é de veludo, o do Bob Dylan”, “Prefiro Chapolin, o Hugo, Chaves”.  Ai vira besteirol, como estes outros: “O padre bateu o carro dando uma rezinha...”, “a vaca foi para o espaço para se encontrar com o vácuo”, “quando o Papai Noel morrer ele não estará mais em trenós”. Argh! Pra falar a verdade nem sei se os exemplos representam trocadilhos, mas troco em diante assim mesmo.

Apesar dessas indignas produções, mantenho a arte trocadilhesca em alta na minha preferência e, com o perdão dos leitores, encerro com  o clássico dos trocadilhos, o trocadilho do trocadilho, o trocadalho do carilho, ou seria o trocarilho do cadalho?

*Plinio Nunes, falecido este  ano, nos legou uma obra prima, que a Associação Riograndense de Imprensa/ARI viabilizou, editada pela Farol 3 com o apoio da Prefeitura de Gravataí: o livro “À Crase, os meus respeitos!”, um  manual bem didático para consultas não só sobre a maldita crase, mas também sobre a virgula, o hífen e todos os porquês. O livro foi o mais vendido na banca da ARI na Feira do Livro e agora pode ser adquirido pela Farol3 Editores em www.farol3.com.br . Toda a renda da comercialização irá para a família do Plinio.

 

 

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