segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Objeto de desejo em forma de mulher

 *Publicado nesta data em coletiva.net 

*Baseada em uma história  real 

A declaração atribuída à atriz Paolla Oliveira de que “a prostituição será a única forma de sobrevivência das atrizes da Globo, caso Bolsonaro seja reeleito” revelou-se como mais uma fake news a transitar impunemente pelo território livre das redes sociais. Só que antes do desmentido formal da bela Paolla sei de muita gente que estava disposta a rever sua opção eleitoral para se candidatar ao elenco global feminino que ficaria desgraçado, dependendo do resultado da eleição do ano que vem, se a afirmação da atriz fosse minimamente verdadeira. 

O episódio serviu também para mexer no baú das minhas memórias, do tempo em que militei na radiofonia,  e trazer à tona o ocorrido com um gabaritado repórter daquela época. O moço tinha obsessão  por uma atriz de dotes artísticos e estéticos dignos da revista Playboy dos bons tempos, para a qual, aliás, ela posou com direito àquela foto grande da página central, que ornava as melhores borracharias do ramo. Na real, a loira – ela nascera numa cidade de colonização alemã - era o sonho de consumo de 10 entre 10 brasileiros  e alvo de muitas homenagens, especialmente  pelos mais jovens. O que diferenciava nosso amigo dos  outros  aficionados é que ele começou uma poupança  para fazer frente às exigências da renomada atriz. 

Pelo menos era o que contavam seus companheiros de profissão, exagerando nos dotes, no desempenho e nas tais exigências. O empreendimento não sairia barato! Um ou outro companheiro, dos mais bem situados financeiramente, dava a entender que já havia feito um investimento na musa, em uma viagem ao Rio ou São Paulo durante a cobertura de jogos  da dupla Grenal. 

- E aí, me conta, como foi? É tudo aquilo que falam?, - indagava, sôfrego, o poupador. 

-  Valeu cada centavo!,- respondia o incentivador, e nada mais acrescentava, o que só aumentava a  expectativa do inquisidor. 

O jovem senhor conseguia reservar até uma parte  das magras diárias de sua emissora, privando-se de algumas refeições, visando um objetivo maior: o investimento para a realização de seu sonho, 

A cada escala de viagem o dedicado repórter planejava que seria aquela a melhor ocasião para o encontro com seu objeto de desejo, mas  tudo conspirava para que o intento não se realizasse. Começava pelos telefones que os “amigos” lhe repassavam (“não  tem erro, um primo de um amigo meu acertou  tudo com ela por este número”, ou “este é o número que está valendo agora,  ela teve que mudar porque o anterior estava muito manjado”) e que invariavelmente eram atendidos num açougue, numa padaria e, sacanagem extrema, até numa funerária. “Vai ver mudou de novo o número de contato”, justificavam os cafajestes. Detalhe: eram tempos sem celular. 

O tempo foi passando, a atriz revezando papéis na TV  e novos parceiros na vida privada, tudo acompanhado obsessivamente pelo nosso personagem, enquanto a poupança dele era corroída pela inflação do período  pré-Plano Real,  até  que um dos bandalhos pediu para falar reservadamente com ele. O cínico, devidamente instruído pelos outros sacanas, fez um ar compungido antes de disparar: 

- Amigo, tenho uma informação triste pra te contar. Um parente meu que tem contatos com o pessoal das TVs me revelou que a fulana agora dobrou o preço. Era muita demanda e ainda tem esse negócio da inflação, sabe como é, né?! 

Nosso repórter ficou sem chão diante da “revelação”. A poupança dele estava longe de alcançar a nova régua financeira estabelecida pela atriz. Inconsolável, chegou a pedir uma licença  e avisou  as chefias que, na volta,  não queria mais viajar para o centro do país. 

- Nada mais me atrai por lá..., confessou. 

O tempo é o senhor da razão e o melhor antídoto para as desilusões, sobretudo as amorosas. Com o ex-apaixonado não foi diferente e eis que ele se reapresenta para trabalhar a bordo de um bem conservado Fuca 1300. 

- Investi aquela poupança nessa belezinha, que não é tão exigente, me leva pra cima e pra baixo e não  corro o risco  de ser rejeitado. E usada por usada, sou mais a minha viatura, - justificou. 

E foram felizes por pelo menos cinco anos, quando o  Fuca  foi trocado por um Corcel 2,  também em bom estado de conservação e de manutenção, igualmente, não muito exigente. 

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