segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Um negócio promissor


* Publicado nesta data em coletiva.net

Vivemos a era dos aplicativos. Na coluna anterior, inclusive,  gracejei sobre o PTinder, iniciativa digital para aproximar pessoas de esquerda. A constatação óbvia é  que empresas, instituições  ou serviços sem seus épis – é assim que os locutores anunciam nos  comerciais – estão fadadas ao fracasso.  Não vai faltar um acadêmico defendendo uma  tese de que estes tempos pós verdades se dividem em AApp/DApp.

A gama de serviços oferecidos não tem limites. Do transporte individual à entrega do rancho, do crédito bancário às compras nas lojas, dos consertos domésticos ao pedido de refeições,  tudo pode ser resolvido por meio dos épis. É a uberização do  nosso cotidiano  E tudo na agilidade de atendimento de, no máximo, 15 minutos. Nunca houve tanta comodidade para os cidadãos  e nunca haverá tanta dependência de um processo.

Sucede que meu amigo Solano* resolveu criar um aplicativo para fornecimento de acompanhantes e similares à domicílio, que ele registrou como UberSex. Por enquanto, é uma  startup, mas muito promissora como negócio. Claro que o sistema já existia por telefone, mas o amigo introduziu inovações nas suas funcionalidades, garantindo total privacidade aos demandantes, além de oferecer um completo perfil e os predicados dos e das acompanhantes. Sim, porque o serviço é multisex, inclusive com o agregado TransExpress que, junto com o GirlExpress e o BoyExpress, vem reforçar o conceito adotado pela firma – “toda a forma de relacionamento ao alcance de seus dedos”.

Ao me relatar os detalhes do empreendimento e pedir confidencialidade sobre outras inovações, fiz ver ao Solano, entretanto, que a expressão “ao alcance  dos  seus dedos” podia  significar uma ambiguidade diante da natureza dos serviços oferecidos.  A resposta veio acompanhada de um sorrisinho safado:

- Neste ramo de atividade, ambiguidade é fundamental. Veja o caso das “acompanhantes”,- e fez o sinal com os dedos simulando aspas.

E como se fosse um Zuckerberg do erotismo, passou a discorrer mais sobre a potencialidade do seu negócio, agora  sem ambiguidades:

- A  sacanagem tem que se modernizar e isso só pode ocorrer pelo modus operandi nas contratações, porque em termos “daquilo” (eu esperava que ele usasse um termo mais  chulo) não há mais novidades. Outra coisa: vamos garantir privacidade plena aos interessados, evitando, por exemplo, aqueles carrões negociando nas ruas com os trans, como ocorre  em alguns locais de Porto Alegre...
E, após uma pausa dramática, anunciou:

-  Agora estou planejando até em abrir franquias da UberSex. Por acaso, está interessado?

A proposta era tentadora, mas recusei de pronto. Tenho o maior  respeito pelos empreendedores, mas considerei que a UberSex não seria bem recebida como investimento no ambiente em que transito. Até  porque estou tentando me livrar da pecha de que só penso “naquilo”, sobretudo depois do meu último livro, Quando Eu Fiz 69.  Quem me conhece sabe que isso é uma tremenda injustiça, o que não impede uma discreta torcida pelo sucesso do amigo.

*Nome fictício.

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