* Publicado nesta data em coletiva.net
Vivemos a era dos
aplicativos. Na coluna anterior, inclusive,
gracejei sobre o PTinder, iniciativa digital para aproximar pessoas de
esquerda. A constatação óbvia é que empresas,
instituições ou serviços sem seus épis –
é assim que os locutores anunciam nos
comerciais – estão fadadas ao fracasso.
Não vai faltar um acadêmico defendendo uma tese de que estes tempos pós verdades se
dividem em AApp/DApp.
A gama de serviços
oferecidos não tem limites. Do transporte individual à entrega do rancho, do
crédito bancário às compras nas lojas, dos consertos domésticos ao pedido de
refeições, tudo pode ser resolvido por
meio dos épis. É a uberização do nosso
cotidiano E tudo na agilidade de
atendimento de, no máximo, 15 minutos. Nunca houve tanta comodidade para os
cidadãos e nunca haverá tanta
dependência de um processo.
Sucede que meu amigo
Solano* resolveu criar um aplicativo para fornecimento de acompanhantes e
similares à domicílio, que ele registrou como UberSex. Por enquanto, é uma startup, mas muito promissora como negócio. Claro
que o sistema já existia por telefone, mas o amigo introduziu inovações nas
suas funcionalidades, garantindo total privacidade aos demandantes, além de
oferecer um completo perfil e os predicados dos e das acompanhantes. Sim,
porque o serviço é multisex, inclusive com o agregado TransExpress que, junto
com o GirlExpress e o BoyExpress, vem reforçar o conceito adotado pela firma –
“toda a forma de relacionamento ao alcance de seus dedos”.
Ao me relatar os detalhes
do empreendimento e pedir confidencialidade sobre outras inovações, fiz ver ao Solano,
entretanto, que a expressão “ao alcance
dos seus dedos” podia significar uma ambiguidade diante da natureza
dos serviços oferecidos. A resposta veio
acompanhada de um sorrisinho safado:
- Neste ramo de
atividade, ambiguidade é fundamental. Veja o caso das “acompanhantes”,- e fez o
sinal com os dedos simulando aspas.
E como se fosse um
Zuckerberg do erotismo, passou a discorrer mais sobre a potencialidade do seu
negócio, agora sem ambiguidades:
- A sacanagem tem que se modernizar e isso só
pode ocorrer pelo modus operandi nas contratações, porque em termos “daquilo” (eu
esperava que ele usasse um termo mais
chulo) não há mais novidades. Outra coisa: vamos garantir privacidade
plena aos interessados, evitando, por exemplo, aqueles carrões negociando nas
ruas com os trans, como ocorre em alguns
locais de Porto Alegre...
E, após uma pausa dramática,
anunciou:
- Agora estou planejando até em abrir franquias
da UberSex. Por acaso, está interessado?
A proposta era tentadora,
mas recusei de pronto. Tenho o maior
respeito pelos empreendedores, mas considerei que a UberSex não seria
bem recebida como investimento no ambiente em que transito. Até porque estou tentando me livrar da pecha de
que só penso “naquilo”, sobretudo depois do meu último livro, Quando Eu Fiz
69. Quem me conhece sabe que isso é uma
tremenda injustiça, o que não impede uma discreta torcida pelo sucesso do amigo.
*Nome fictício.
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