segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Guerreiro das gôndolas


* Publicado nesta data em coletiva.net

(Vagamente baseado em fatos reais)

- Alguém viu o Hailander?

Quem pergunta é a Cyntha Prescila.

- Parece que tá lá no depósito.

Quem responde é Ricarlison.

- Não mesmo, vi o Hailander lá pros lados do vestiário.

A interferência foi da Kimberly

- Bah, este cara vive sumindo.

A queixa é do Uillian.

(- Já tá merecendo um corretivo)

O resmungo, quase inaudível, é do Dionathan.

- Este guri não  tem mais jeito.

 O repique é da Qelly Maria

Vocês estão autorizados a pensar que o Hailander, o guri do supermercado, recebeu o apelido por causa do personagem dos filmes e séries Highlander, conhecido como o Guerreiro Imortal,  o escocês que, mesmo ferido mortalmente em combate, ressuscitava tempos depois. Nosso Highlander das gôndolas teria o dom de desaparecer durante o  expediente para reaparecer tempos depois, lépido e faceiro, pronto para novas batalhas de empacotamento nas caixas.

Nada disso,  no crachá do garoto mirradinho, de cara espinhenta e cabelo espigado que lembra o primeiro ministro inglês, está escrito Hailander José da Silva.

O pai era fã do herói, mas a mãe não abriu mão de juntar o nome  do pai, seu Zé, homem respeitável no pedaço, ao nome do guri, que não fez jus à fama do avô nem a coragem do Highlander, mas tão somente à capacidade de sumir e reaparecer. Para não dizerem que não tem nada mais a ver com o personagem, o garoto é meio vesguinho como Cristofer Lambert, o Highlander original. Aliás, por  pouco  não recebeu o nome de Kristobert em homenagem ao ator, mas a mãe achou  que aí já era um exagero.

Quem revela esses histórico sobre o  garoto é o gerente do mercado, um sujeito simpático e amigo da familia, de nome estranho para aquele ambiente:

- João Carlos da Silveira, as suas ordens.

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