*Publicado nesta data em coletiva.net
Reza a crendice popular
que não se deve usar o termo último para qualquer tarefa a ser executada.
Último é o fim da linha e depois só a morte. Igualmente não convém usar último
com o sentido de o mais recente. Não sou dado à crendices, mas costumo me ater ao
rigor gramatical para preferir o mais recente ao último. Na verdade, tenho
optado mais pelo penúltimo (a), talvez
como forma inconsciente de adiar o último, ou seja, o ato final.
Penúltimo tem seus
encantos. Penúltimo é o vice ao contrário e o vice, como ocorre com frequência
na política, pode ascender à primeira posição. Penúltimo é bem dotado de classes gramaticais: é adjetivo
quando significa que ocorre ou aparece imediatamente antes do último e é
substantivo masculino quando indica algo
ou alguém que ocupa essa posição. Penúltimo
tem origem nobre, vem do latim paenultimus.a.um. Penúltimo tem a sonoridade
das proparoxítonas e pode se orgulhar de conter quatro das cinco vogais, o que
não é para qualquer palavra.
Quatro são também as
versões de penúltimo em inglês, três delas compostas - second to last, next
to last, last but one e mais uma latinizada, penultimate. Ou seja, penúltimo está podendo em inglês.
A palavra permite ainda
algumas frases de efeito, sendo que uma delas marcou um período da história
recente da política brasileira: “...no Brasil de hoje o corno é o penúltimo a
saber - o último é sempre o presidente Lula”. O autor: Roberto Jefferson, aquele que fez as
primeiras – e penúltimas ? - denúncias sobre o Mensalão do PT. Bem menos chula é a do neurologista,
fisiologista e antropólogo italiano Paolo Mantegazza (1831-1910): “Nenhum homem se julgou jamais o último; até
os mais humildes querem ser penúltimos. “
Pra falar a verdade, não
consegui alcançar o que quis dizer o autor da frase, que se notabilizou por ter
isolado a cocaína da coca, utilizada em experimentos para investigar seus
efeitos em humanos. Vai ver tinha dado
um pega antes de criar a frase em questão.
Por penúltimo, cabe
esclarecer que o mote para esta crônica não tem qualquer relevância e
surpreendo-me ao constatar que o assunto já
rendeu pelo menos cinco parágrafos. É que me desafiei a produzir um texto tendo penúltimo como
tema, como ocorreu, tem gente que jura que é
verdade, com Chico Buarque de
Holanda ao ser desafiado a incluir a palavra paralelepípedo numa de suas
composições. A genialidade de Chico teria atendido na antológica Vai Passar,
Vai passar
Nessa avenida um samba
popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
sambas imortais.
Nessa avenida um samba
popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
sambas imortais.
Maravilha. Agora quero ver ele fazer uma música usando
penúltimo (a). Já aviso que estou
preparando uma crônica sobre paralelepípedo. Te cuida, Chico.
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