segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Vem, Crivella


*Publicado nesta data em coletiva.net

O Santiago, o Schroder, o Edgar Vasques e os outros chargistas envolvidos na exposição Independência em Risco, encerrada prematuramente na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ao invés de se enfurecerem com a vereadora Mônica Leal, presidente do legislativo, e seu colega Valter Nagelstein, deveriam erigir um monumento para eles.  Na pior das hipóteses conceder-lhes o título de Beneméritos dos Chargistas. Graças a ação dos dois para  a suspensão do evento, na verdade, um ato de censura, a exposição de charges com críticas ao governo Bolsonaro,  que  ficaria restrita aos eventuais frequentadores da Câmara de Vereadores, ganhou repercussão nacional, notas na imprensa internacional e uma avalanche de protestos de entidades e personalidades.

No Rio, o prefeito Marcelo Crivella é quem  mereceria um monumento  – ou um título de Benemérito dos Editores – depois de proibir a venda na Bienal do Livro de uma HQ, o popular gibi, com ilustração de um beijo entre dois personagens masculinos. Em meio a idas e vindas jurídicas, a publicação voltou a ser vendida e rapidamente esgotou-se  a tiragem. Em Porto  Alegre, também uma decisão judicial determinou que a exposição voltasse à Câmara de Vereadores.

Tirante algumas manifestações escatológicas de mau gosto entre os desenhos, as charges eram de muito boa qualidade, servindo para mostrar que essa arte ainda tem força, mesmo que a função dos  chargistas caminhe para a  extinção pelo espaço ocupado, cada vez mais, pelos memes. 

Divagações a parte, tanto no episódio da Câmara de Vereadores como no da Bienal, o que ficou claro, de novo, é que a censura, mais que uma manifestação autoritária e intolerante, torna-se, antes de  tudo, uma burrice, na medida em que expande o que ficaria restrito, contrariando o objetivo que os censores pretendiam, de esconder o exposto . Isso também é conhecido como tiro no pé. Foi desgaste e constrangimento para os agentes públicos.

Aqui vale lembrar que acabo de lançar um livro cujo título -  Quando Eu Fiz 69 – pode gerar interpretações maliciosas que não condizem com os conteúdos da obra. Entretanto, aproveitando a onda de apoio às manifestações censuradas e o inesperado sucesso conquistado por elas, passei a cogitar de encenar uma batida fiscalizatória fake quando da sessão de autógrafos marcada para o dia 8 de novembro na Feira do Livro de Porto Alegre. A sugestão me foi passada por  uma leitora presente no lançamento do  livro, terça-feira passada. Olha, se tudo der certo e o teatrinho for convincente, Quando Eu Fiz 69 vai vender mais que costela gorda no Acampamento Farroupilha. Vem pra Feira, Crivella.

Nenhum comentário:

Postar um comentário