*Publicado nesta data em coletiva.net
O Santiago, o Schroder, o
Edgar Vasques e os outros chargistas envolvidos na exposição Independência em
Risco, encerrada prematuramente na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ao
invés de se enfurecerem com a vereadora Mônica Leal, presidente do legislativo,
e seu colega Valter Nagelstein, deveriam erigir um monumento para eles. Na pior das hipóteses conceder-lhes o título
de Beneméritos dos Chargistas. Graças a ação dos dois para a suspensão do evento, na verdade, um ato de
censura, a exposição de charges com críticas ao governo Bolsonaro, que
ficaria restrita aos eventuais frequentadores da Câmara de Vereadores,
ganhou repercussão nacional, notas na imprensa internacional e uma avalanche de
protestos de entidades e personalidades.
No Rio, o prefeito
Marcelo Crivella é quem mereceria um
monumento – ou um título de Benemérito
dos Editores – depois de proibir a venda na Bienal do Livro de uma HQ, o
popular gibi, com ilustração de um beijo entre dois personagens masculinos. Em
meio a idas e vindas jurídicas, a publicação voltou a ser vendida e rapidamente
esgotou-se a tiragem. Em Porto Alegre, também uma decisão judicial
determinou que a exposição voltasse à Câmara de Vereadores.
Tirante algumas
manifestações escatológicas de mau gosto entre os desenhos, as charges eram de
muito boa qualidade, servindo para mostrar que essa arte ainda tem força, mesmo
que a função dos chargistas caminhe para
a extinção pelo espaço ocupado, cada vez
mais, pelos memes.
Divagações a parte, tanto
no episódio da Câmara de Vereadores como no da Bienal, o que ficou claro, de
novo, é que a censura, mais que uma manifestação autoritária e intolerante, torna-se,
antes de tudo, uma burrice, na medida em
que expande o que ficaria restrito, contrariando o objetivo que os censores
pretendiam, de esconder o exposto . Isso também é conhecido como tiro no pé.
Foi desgaste e constrangimento para os agentes públicos.
Aqui vale lembrar que acabo
de lançar um livro cujo título - Quando
Eu Fiz 69 – pode gerar interpretações maliciosas que não condizem com os
conteúdos da obra. Entretanto, aproveitando a onda de apoio às manifestações
censuradas e o inesperado sucesso conquistado por elas, passei a cogitar de
encenar uma batida fiscalizatória fake quando da sessão de autógrafos marcada
para o dia 8 de novembro na Feira do Livro de Porto Alegre. A sugestão me foi
passada por uma leitora presente no
lançamento do livro, terça-feira
passada. Olha, se tudo der certo e o teatrinho for convincente, Quando Eu Fiz
69 vai vender mais que costela gorda no Acampamento Farroupilha. Vem pra Feira,
Crivella.
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