segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Por um fio de esperança


Fechou a Livraria Saraiva da rua da Praia, substituída por mais uma farmácia. Agora são sete, algumas da mesma rede, na mesma quadra. E a rua da Praia, que se orgulhava de sediar a histórica  Livraria do  Globo (hoje o espaço é ocupado por  um magazine), agora só tem  livros à venda nas Irmãs Paulinas, mas não faltam bagulhos dos camelôs  e farta oferta de medicamentos na profusão de farmácias.

Nem tudo está perdido, porém, para o mercado livreiro. Observo que a venda de livros se reinventa e hoje frequenta os corredores dos shoppings com ofertas tentadoras de best sellers e mesmo clássicos a R$ 10,00. Seria o caso de a literatura ir aonde o povo está?
Torço, mas torço muito mesmo, para que essa comercialização seja bem sucedida, até porque, na contramão do encolhimento do mercado, estou prestes a lançar mais um livro, com o instigante título de Quando Eu Fiz 69. *

Se a Teoria do Parêntese de Gutemberg estiver correta na sua previsão o livro a ser  lançado está  nos estertores da existência da mídia impressa como a conhecemos hoje. Vale explicar que a teoria formulada por Thomas Pettit, professor  de História  da Cultura da Universidade do Sul da Dinamarca (parêntese: o título é de autoria de outro professor, Lars Sauerberg), tem provocado discussões nos meios  acadêmicos  ao afirmar  que a Humanidade está voltando à era da transmissão oral de informação e  conhecimento. Assim, a época da imprensa escrita  e dos livros, nascida a partir  da invenção dos tipos móveis e da prensa por  Gutemberg no século XV, seria apenas um parêntese na história. Um parêntese que chega ao fim com a era da mídia eletrônica.

Entretanto, um fio de esperança  se  acendeu para mim na semana passada, a indicar que o hábito da leitura  poderá sobreviver  ao Parêntese de Gutemberg. À convite da neta  Maria Clara fui conversar com seus colegas da quarta série do Colégio João XXIII, em Porto Alegre.  Falamos de esportes, experiências de viagens e, especialmente, de livros e da importância  da leitura.  Fiquei bem impressionado com o interesse da piazada, da variedade e nível das perguntas e da excitação da turma  quando passei a mostrar  os livros que  havia levado para presenteá-los, entre eles obras ilustradas de Monteiro Lobato e o clássico Pequeno Príncipe, todos manuseados com  o carinho devotado ao que se gosta.  O conhecimento deles sobre esses livros se revelou acima da média que tenho observado em crianças  da mesma  faixa etária, entre 9 e 10 anos.

À simpática e atenta professora Nara ofereci o  meu Crônicas da Mesa ao Lado, o que provocou uma saia justa, eis que tive que  explicar porque eles não poderiam,  ainda, ler o livro, cujos textos  são voltados  para o público adulto. Enfim, foi uma experiência enriquecedora para mim e, com certeza, para os pequenos estudantes.

Ora, direis, o interesse pela leitura decorre do nível dos alunos do João XXIII, escola particular de custo inacessível para a maioria da criançada.  Não é bem assim. O querido e talentoso Dilan Camargo, ex-patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, tem palmilhado o Estado, prenhe de entusiasmo com os resultados dos bate-papos  sobre literatura com estudantes, pais e professores em escolas públicas e particulares. Este é apenas um exemplo, que se multiplica  em outra iniciativa bem sucedida das escolas públicas municipais de Porto  Alegre: é o projeto Adote Um Escritor, que na edição deste ano, a 18ª, selecionou 40 autores para 170 visitas às escolas. O projeto é centrado no contato do autor com o aluno, tendo papel importante na formação do público leitor, mas permite que também os estudantes contem suas histórias.  A previsão é de que atinja mais de 40 mil alunos da rede municipal em 2019. Não é pouca coisa.

Por isso, me associo ao mantra postado por Dilan a cada novo contato escolar – Viva o Livro! Viva a Poesia! – e acrescento: longa vida ao livro e à leitura.

*Quando Eu Fiz 69 será lançado no próximo dia 10, a partir das 18 horas no Chalé da Praça XV.


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