Fechou a Livraria Saraiva
da rua da Praia, substituída por mais uma farmácia. Agora são sete, algumas da
mesma rede, na mesma quadra. E a rua da Praia, que se orgulhava de sediar a
histórica Livraria do Globo (hoje o espaço é ocupado por um magazine), agora só tem livros à venda nas Irmãs Paulinas, mas não
faltam bagulhos dos camelôs e farta
oferta de medicamentos na profusão de farmácias.
Nem tudo está perdido,
porém, para o mercado livreiro. Observo que a venda de livros se reinventa e
hoje frequenta os corredores dos shoppings com ofertas tentadoras de best sellers
e mesmo clássicos a R$ 10,00. Seria o caso de a literatura ir aonde o povo
está?
Torço, mas torço muito
mesmo, para que essa comercialização seja bem sucedida, até porque, na
contramão do encolhimento do mercado, estou prestes a lançar mais um livro, com
o instigante título de Quando Eu Fiz 69. *
Se a Teoria do Parêntese
de Gutemberg estiver correta na sua previsão o livro a ser lançado está
nos estertores da existência da mídia impressa como a conhecemos hoje.
Vale explicar que a teoria formulada por Thomas Pettit, professor de História
da Cultura da Universidade do Sul da Dinamarca (parêntese: o título é de
autoria de outro professor, Lars Sauerberg), tem provocado discussões nos
meios acadêmicos ao afirmar
que a Humanidade está voltando à era da transmissão oral de informação e conhecimento. Assim, a época da imprensa
escrita e dos livros, nascida a
partir da invenção dos tipos móveis e da
prensa por Gutemberg no século XV, seria
apenas um parêntese na história. Um parêntese que chega ao fim com a era da
mídia eletrônica.
Entretanto, um fio de
esperança se acendeu para mim na semana passada, a indicar
que o hábito da leitura poderá
sobreviver ao Parêntese de Gutemberg. À
convite da neta Maria Clara fui
conversar com seus colegas da quarta série do Colégio João XXIII, em Porto
Alegre. Falamos de esportes,
experiências de viagens e, especialmente, de livros e da importância da leitura.
Fiquei bem impressionado com o interesse da piazada, da variedade e
nível das perguntas e da excitação da turma
quando passei a mostrar os livros
que havia levado para presenteá-los,
entre eles obras ilustradas de Monteiro Lobato e o clássico Pequeno Príncipe,
todos manuseados com o carinho devotado
ao que se gosta. O conhecimento deles
sobre esses livros se revelou acima da média que tenho observado em
crianças da mesma faixa etária, entre 9 e 10 anos.
À simpática e atenta
professora Nara ofereci o meu Crônicas
da Mesa ao Lado, o que provocou uma saia justa, eis que tive que explicar porque eles não poderiam, ainda, ler o livro, cujos textos são voltados
para o público adulto. Enfim, foi uma experiência enriquecedora para mim
e, com certeza, para os pequenos estudantes.
Ora, direis, o interesse
pela leitura decorre do nível dos alunos do João XXIII, escola particular de
custo inacessível para a maioria da criançada.
Não é bem assim. O querido e talentoso Dilan Camargo, ex-patrono da
Feira do Livro de Porto Alegre, tem palmilhado o Estado, prenhe de entusiasmo
com os resultados dos bate-papos sobre
literatura com estudantes, pais e professores em escolas públicas e
particulares. Este é apenas um exemplo, que se multiplica em outra iniciativa bem sucedida das escolas
públicas municipais de Porto Alegre: é o
projeto Adote Um Escritor, que na edição deste ano, a 18ª, selecionou 40
autores para 170 visitas às escolas. O projeto é centrado no contato do autor
com o aluno, tendo papel importante na formação do público leitor, mas permite
que também os estudantes contem suas histórias.
A previsão é de que atinja mais de 40 mil alunos da rede municipal em
2019. Não é pouca coisa.
Por isso, me associo ao
mantra postado por Dilan a cada novo contato escolar – Viva o Livro! Viva a
Poesia! – e acrescento: longa vida ao livro e à leitura.
*Quando Eu Fiz 69 será
lançado no próximo dia 10, a partir das 18 horas no Chalé da Praça XV.
Nenhum comentário:
Postar um comentário