domingo, 8 de setembro de 2019

Ah, eu sou gaúcho!


*Publicação em 09/09/2019 em  coletiva.net

O chimarrão não faz parte dos meus hábitos. Jamais usei bombachas ou qualquer adereço gauchesco. Uma das poucas  vezes que montei a cavalo quase me fui, com montaria e tudo, Caracol abaixo, em Canela. A vida campeira não me atrai e só uso faca afiada para a preparação do churrasco e nisso, modéstia a parte, sou competente. Ah, e não morro de amores pela Polar e por qualquer outro produto ou atitude que demonstre nosso ufanismo gaudério.

      Esse distanciamento de algumas de nossas mais caras tradições e hábitos, tão exacerbados no 20 de setembro, não me tornam menos gaúcho do que o taura pilchado que desfila orgulhoso. Ainda me emociono com os acordes do Hino Riograndense e reconheço no cancioneiro do chamado nativismo joias raras de poesia, que também mexem com a minha sensibilidade. “Guri”, de João Batista Machado e Júlio Machado, é uma delas, de preferência interpretada por César Passarinho.  Confesso que me deu nó na garganta na chegada da Cavalgada dos Mil Dias para a Copa (NE: em 2011), quando Elton Saldanha recebeu os cavalarianos entoando “O Rio Grande a Cavalo” – Lá vem o Rio Grande a cavalo/entrando no M'Bororé/là vem o Rio Grande a cavalo/que bonito que ele é.

      É impossível renegar as origens e não ser contaminado pelo ambiente de exaltação do gauchismo que, registre-se, cresce como compensação na medida em que o Rio Grande perde poder e espaço no contexto nacional. Talvez seja o momento de avaliar, também, porque um movimento que foi derrotado em armas, embora vitorioso na permanência dos seus ideais, seja tão exaltado e reverenciado, enquanto outros movimentos bem-sucedidos, capitaneados por gaúchos, como a Revolução de 30 e a Legalidade, não têm o mesmo reconhecimento e a mesma força de aglutinação dos gaúchos. Estaria faltando um Paixão Cortes, um Barbosa Lessa e seus pioneiros da retomada do gauchismo para reconstruir esses momentos da nossa história e criar novas razões para nos orgulharmos?

      Como História e Tradição escapam do meu campo de conhecimentos, repasso a questão para os especialistas, antes de reafirmar, com algum recato, mas muito orgulho: Ah, eu sou Gaúcho!

*Esta é uma  das crônicas do livro Quando Eu Fiz 69, que será lançado na terça-feira,10, no Chalé da Praça 15, a partir  das 18 horas para quem quiser se livrar cedo. Garanta já o seu exemplar, antes que censurem. O estacionamento é liberado no Largo Glênio  Peres a partir das 19 horas. Haverá  farta distribuição de água para os que comparecerem.


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