*Publicação em 09/09/2019 em coletiva.net
O chimarrão não faz parte dos meus
hábitos. Jamais usei bombachas ou qualquer adereço gauchesco. Uma das poucas vezes que montei a cavalo quase me fui, com
montaria e tudo, Caracol abaixo, em Canela. A vida campeira não me atrai e só
uso faca afiada para a preparação do churrasco e nisso, modéstia a parte, sou
competente. Ah, e não morro de amores pela Polar e por qualquer outro produto
ou atitude que demonstre nosso ufanismo gaudério.
Esse
distanciamento de algumas de nossas mais caras tradições e hábitos, tão
exacerbados no 20 de setembro, não me tornam menos gaúcho do que o taura
pilchado que desfila orgulhoso. Ainda me emociono com os acordes do Hino
Riograndense e reconheço no cancioneiro do chamado nativismo joias raras de
poesia, que também mexem com a minha sensibilidade. “Guri”, de João Batista
Machado e Júlio Machado, é uma delas, de preferência interpretada por César
Passarinho. Confesso que me deu nó na
garganta na chegada da Cavalgada dos Mil Dias para a Copa (NE: em 2011), quando
Elton Saldanha recebeu os cavalarianos entoando “O Rio Grande a Cavalo” – Lá
vem o Rio Grande a cavalo/entrando no M'Bororé/là vem o Rio Grande a cavalo/que
bonito que ele é.
É
impossível renegar as origens e não ser contaminado pelo ambiente de exaltação
do gauchismo que, registre-se, cresce como compensação na medida em que o Rio
Grande perde poder e espaço no contexto nacional. Talvez seja o momento de
avaliar, também, porque um movimento que foi derrotado em armas, embora
vitorioso na permanência dos seus ideais, seja tão exaltado e reverenciado,
enquanto outros movimentos bem-sucedidos, capitaneados por gaúchos, como a
Revolução de 30 e a Legalidade, não têm o mesmo reconhecimento e a mesma força
de aglutinação dos gaúchos. Estaria faltando um Paixão Cortes, um Barbosa Lessa
e seus pioneiros da retomada do gauchismo para reconstruir esses momentos da
nossa história e criar novas razões para nos orgulharmos?
Como
História e Tradição escapam do meu campo de conhecimentos, repasso a questão
para os especialistas, antes de reafirmar, com algum recato, mas muito orgulho:
Ah, eu sou Gaúcho!
*Esta é uma das crônicas do livro Quando Eu Fiz 69, que
será lançado na terça-feira,10, no Chalé da Praça 15, a partir das 18 horas para quem quiser se livrar cedo.
Garanta já o seu exemplar, antes que censurem. O estacionamento é liberado no
Largo Glênio Peres a partir das 19
horas. Haverá farta distribuição de água
para os que comparecerem.
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