quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Papos de aposentados

Encontro no supermercado meu velho e querido amigo Belmonte, o João Carlos. Trabalhamos juntos por quase 20 anos nas rádios Guaíba e Gaúcha entre as décadas de 70 e 90 do século passado. Faz tempo isso e há tempos não nos cruzávamos.

Belmonte foi, sem dúvida, o melhor e mais criativo repórter esportivo de rádio que já vi atuando.  Às vezes era chamado a narrar, mas com certeza essa não era a praia dele. Nos últimos anos migrou para o comentário e foi nessa função que se aposentou, depois de fazer parte da geração de ouro do radio esportivo gaúcho,  a geração do Ranzolin, do Lauro, do Ruy, do Lasier, do Milton, do Edegar, entre outros.  Em boa forma aos 72 anos, agora é mais conhecido como o pai do Beto (Roberto),  respeitado ambientalista e professor universitário e do Caco (Ricardo), também jornalista e escritor de texto irretocável.

Na nossa conversa,  diferente do que possam estar imaginando, não ficamos rememorando o passado – e teríamos tantas coisas para lembrar e celebrar! – mas preferimos colocar o papo em dia, inclusive cometemos algumas maledicências,  como é de praxe em encontro de jornalistas.  Belmonte e eu temos, entre outras afinidades, o fato de sermos aposentados, mas com uma cruel diferença contra mim, que continuo na ativa, ralando para garantir o rancho da semana e o plano de saúde indispensável nesta quadra da vida, enquanto ele goza as delicias da ociosidade e gasta parcimoniosamente a grana que amealhou nos tempos da fama.  Agora até virou consultor, demandado que foi por um ex-companheiro em vias de se aposentar.

- Ele queria saber como eu ocupava meu dia, porque estava preocupado em não ter oque fazer e se entediar, explicou.

Aí, com entusiasmo e num fôlego só, relatou o seu cotidiano, que ele considera movimentado.

- Acordo cedo, desço para apanhar o jornal, volto para fazer o café e preparar as frutinhas para a Liginha (dona Lígia, companheira de anos),  tomamos o café juntos, leio as noticias esportivas, vou ao supermercado,  saio para uma caminhada de uma hora pelo bairro (Menino Deus) ou para a ginástica no CETE (Centro Estadual de Treinamento Esportivo), volto, tomo o banho,  e fico esperando o almoço. Depois faço uma breve sesta, termino de ler o jornal, jogo uma canastra, vejo as novelas e os noticiários até  chegar a hora de nanar  e lá se vai mais um dia. Isso quando não dou uma escapada à praia.

E completou: “ Nunca estive tão ocupado como agora.  Antes era um trabalho só, na rádio, agora são múltiplas atividades no dia a dia.”

Tem sua lógica na ocupação do tempo a rotina diária montada pelo Belmonte, que revelou, ainda,  que só se desloca de ônibus na cidade, provavelmente para economizar combustível e fazer uso efetivo da isenção de tarifa concedida aos idosos.  Evito, entretanto, opinar a respeito.  Na despedida, combinamos de nos reencontrar no lançamento do livro do Lauro Quadros (Olha Gente! no dia 5, na Livraria Cultura) e até pensei que ele reclamaria do preço da obra, mas me enganei.  Vai ver que recebeu uma cortesia...

O mais incrível é que no encontro em nenhum momento se falou em doença e remédios, temas recorrentes entre veteranos. Em seguida chegou o João Padeiro, outro personagem do Menino Deus, que só falou em doenças, mas aí já é outra história.

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