domingo, 6 de setembro de 2015

Os irmãos da Rosa

A propósito do Dia do Irmão, comemorado em 5 de setembro, com um dia de atraso resgato um texto de maio de 2010 que exalta - não me ocorreu nenhum verbo melhor - nossa irmã mais famosa, a Rosa Maria. O Luiz, o Telmo, o Tadeu e a Cristina vão entender a homenagem e assinariam embaixo com certeza.


Luiz Vicente, este que vos fala, e Rosinha, junto a placa que tenta mascarar nossa origem açoriana.
  
Já fomos nove e hoje somos seis, os irmãos Vieira Dutra, filhos da dona Télia e do coronel Dastro. Herdamos da saudosa dona Télia o espírito irreverente, debochado, expansivo nos gestos e nas palavras, quase inconveniente, resultado da união entre o meu avô alagoano e minha avó calabresa. O coronel Dastro, que está completando 95 anos, era justamente o oposto, oriundo de uma família de gente muito séria, ensimesmada, tímida, de humor contido, talvez por causa das raízes insulares dos Açores. Deu no que deu: somos uma mistureba étnica e de genes antagônicos que resultaram numa espécie rústica, de comportamento que oscila entre o extremamente efusivo à rabugice no limite do tolerável, do afável às posições inflexíveis. Apesar dessa dissociação, ninguém se desgarrou e, menos mal, hoje as festas de família são saudáveis e ruidosas confraternizações, de muita troça e pouco ranço.

Essa fauna familiar abriga uma pessoa muito especial, pelo menos para mim que tenho grandes afinidades com ela, até porque venho logo após na escadinha de filhos e a nossa diferença de idade é de um ano e pouco. Tanto assim que temos uma foto da primeira infância em que aparecemos os dois de cabelo comprido até os ombros– a mesma cara, o mesmo jeito. (O meu cabelo comprido seria efeito de uma promessa feita por minha mãe ou minha avó e resistiu até o dia em que o avô nordestino ordenou que fosse cortado, temeroso que eu virasse “um maricas”. A foto sempre foi motivo de gozação dos outros irmãos, por isso eu abominava aquele instantâneo).

A Rosa está mais para dona Télia do que para o coronel Dastro. Solteira por opção, ela sempre levou a vida numa boa e colecionou uma legião de amigos e admiradores. Formada no Curso Normal, nunca exerceu o magistério, mas dá lições de vida com seu bom humor, alto astral e generosidade. Os sobrinhos são seus fãs, apesar de consideram-na uma tratante por causa de rodadas de pizzas prometidas e nunca cumpridas. Desde a infância foi uma moleca, de pregar peças nos outros, ao mesmo tempo em que está sempre disponível para proteger os mais frágeis e ajudar a quem precisa. Era uma esportista nata, jogando vôlei e futebol de igual para igual com os meninos, mas depois fixou-se como goleira. Foi uma das pioneiras na disseminação do futebol feminino no Estado e acabou virando cartola do Internacional, da qual é torcedora fervorosa.

Por um longo tempo, assessorou políticos na Câmara de Vereadores e no executivo, onde colocou sua rede de relacionamentos e capacidade para resolver problemas à serviço dos assessorados. Quando decidiu se aposentar, choveram convites para ela continuar, mas resistiu porque já tinha tomado um fartão do mundo da política. Ainda hoje é lembrada com carinho por onde passou. Apesar de alguns irmãos terem conquistado uma projeção maior na sociedade, a Rosa é a referência da família e é comum ouvirmos nos encontros pela cidade:

- Tu não és irmão da Rosinha?

Sim, somos todos os irmãos da Rosa, cuja fama já ultrapassou fronteiras. O testemunho é do Luiz Vicente, irmão mais velho, que foi abordado por um assessor parlamentar na biblioteca do Congresso, em Brasília, com a pergunta:

- Doutor, o senhor não é irmão da Rosa?
Só o que falta é a Rosa ser convidada para uma cerimônia junto com o Lula e um popular indagar ao companheiro próximo:

- Quem é aquele barbudinho ao lado da Rosa?





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