A propósito do Dia do Irmão, comemorado em 5 de setembro, com um dia de atraso resgato um texto de maio de 2010 que exalta - não me ocorreu nenhum verbo melhor - nossa irmã mais famosa, a Rosa Maria. O Luiz, o Telmo, o Tadeu e a Cristina vão entender a homenagem e assinariam embaixo com certeza.
Luiz Vicente, este que vos fala, e Rosinha, junto a placa que
tenta mascarar nossa origem açoriana.
Já fomos
nove e hoje somos seis, os irmãos Vieira Dutra, filhos da dona Télia e do
coronel Dastro. Herdamos da saudosa dona Télia o espírito irreverente,
debochado, expansivo nos gestos e nas palavras, quase inconveniente, resultado
da união entre o meu avô alagoano e minha avó calabresa. O coronel Dastro, que
está completando 95 anos, era justamente o oposto, oriundo de uma família de
gente muito séria, ensimesmada, tímida, de humor contido, talvez por causa das
raízes insulares dos Açores. Deu no que deu: somos uma mistureba étnica e de
genes antagônicos que resultaram numa espécie rústica, de comportamento que
oscila entre o extremamente efusivo à rabugice no limite do tolerável, do
afável às posições inflexíveis. Apesar dessa dissociação, ninguém se desgarrou
e, menos mal, hoje as festas de família são saudáveis e ruidosas
confraternizações, de muita troça e pouco ranço.
Essa fauna familiar abriga uma pessoa muito especial, pelo
menos para mim que tenho grandes afinidades com ela, até porque venho logo após
na escadinha de filhos e a nossa diferença de idade é de um ano e pouco. Tanto
assim que temos uma foto da primeira infância em que aparecemos os dois de
cabelo comprido até os ombros– a mesma cara, o mesmo jeito. (O meu cabelo
comprido seria efeito de uma promessa feita por minha mãe ou minha avó e
resistiu até o dia em que o avô nordestino ordenou que fosse cortado, temeroso
que eu virasse “um maricas”. A foto sempre foi motivo de gozação dos outros
irmãos, por isso eu abominava aquele instantâneo).
A Rosa está mais para dona Télia do que para o coronel
Dastro. Solteira por opção, ela sempre levou a vida numa boa e colecionou uma
legião de amigos e admiradores. Formada no Curso Normal, nunca exerceu o
magistério, mas dá lições de vida com seu bom humor, alto astral e
generosidade. Os sobrinhos são seus fãs, apesar de consideram-na uma tratante
por causa de rodadas de pizzas prometidas e nunca cumpridas. Desde a infância
foi uma moleca, de pregar peças nos outros, ao mesmo tempo em que está sempre
disponível para proteger os mais frágeis e ajudar a quem precisa. Era uma
esportista nata, jogando vôlei e futebol de igual para igual com os meninos,
mas depois fixou-se como goleira. Foi uma das pioneiras na disseminação do
futebol feminino no Estado e acabou virando cartola do Internacional, da qual é
torcedora fervorosa.
Por um longo tempo, assessorou políticos na Câmara de
Vereadores e no executivo, onde colocou sua rede de relacionamentos e
capacidade para resolver problemas à serviço dos assessorados. Quando decidiu
se aposentar, choveram convites para ela continuar, mas resistiu porque já
tinha tomado um fartão do mundo da política. Ainda hoje é lembrada com carinho
por onde passou. Apesar de alguns irmãos terem conquistado uma projeção maior
na sociedade, a Rosa é a referência da família e é comum ouvirmos nos encontros
pela cidade:
- Tu não és irmão da Rosinha?
Sim, somos todos os irmãos da Rosa, cuja fama já
ultrapassou fronteiras. O testemunho é do Luiz Vicente, irmão mais velho, que
foi abordado por um assessor parlamentar na biblioteca do Congresso, em
Brasília, com a pergunta:
- Doutor, o senhor não é irmão da Rosa?
Só o que falta é a Rosa ser convidada para uma cerimônia
junto com o Lula e um popular indagar ao companheiro próximo:
- Quem é aquele barbudinho ao lado da Rosa?
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