“Lobos nunca dormem”, sentenciou na mesa ao lado um
parceiro das antigas. Era uma provocação e uma lembrança que remete a uma
crônica cometida anos atrás aqui neste descaminho do ViaDutra. O texto fazia uma analogia entre os canídeos e
aqueles humanos masculinos que, na busca de suas
conquistas amorosas, atuam em locais e horários diferenciados, cercando suas
presas com sutileza e determinação. Distinguem-se dos comuns mortais pelo gosto
ao inusitado, pelo enfrentamento das adversidades, pela ousadia na ação e pela
técnica refinada na abordagem. O maior risco que as mulheres correm com essa
espécie é de terem suas expectativas atendidas, porque o verdadeiro lobo
valoriza suas conquistas e quer fazê-las felizes.
Conhecedor do histórico, o parceiro da mesa ao lado achegou-se a nós e
passou a enriquecer a galeria de lobos com novos tipos que jura existirem, até
porque a categoria, assim como os costumes, está sempre se renovando.
Revelou, por exemplo, que está na moda o Lobo
Sertanejo que ataca nos shows das duplas e cantores do gênero na certeza de que
encontrará uma infinidade de fãs receptivas às más intenções – ou seriam boas?. Pode ser a mais melosa das duplas ou o mais
brega dos cantores lá está nosso amigo, sabendo de cor a maioria das canções
(“preparação é a chave do sucesso”, explica)
e movimentando os bracinhos levantados na hora do “ todo o mundo
cantando comigo agora”. Vale até show de
padre sertanejo, que é o que não falta no cenário musical da atualidade. “Como
o padre não pode 'pegar' as moças, sobra mais para o pessoal laico”, esclarece
didaticamente. O bote nem requer muito
esforço porque a plateia feminina está no clima das musicas e com um pouco de
habilidade e um repertorio de informações sobre os cantores e sua obra aí fica
mais fácil ainda. Os habitués destas abordagens ensinam que, às vezes, funciona
elogiar um artista que se contraponha ao que esta se apresentando. “O
contraditório aproxima e sempre rende uma boa conversa que vai se estendendo até chegar aos
finalmente, com direito a bis...”, conclui o falso caipira, que se apresenta como “um romântico universitário
e sertanejo” e é facilmente reconhecido nos shows por dois detalhes: o figurino,
de jeans apertados, camisas xadrez e chapéu de cowboy, e a proximidade das belas e
bem produzidas fãs de quem se apresenta no palco.
As revelações rendem e o companheiro velho de guerra
já está falando de outro personagem, o Lobo das Redes, também conhecido como Lobo Digital, que ataca
preferencialmente no Facebook, Segundo
ele, essa rede apresenta uma cartela de
perfis femininos variados e instigantes, ao mesmo tempo em que despreza a Tinder porque entende que proporciona muitas facilidades e é da
natureza dos lobos enfrentar uma dose de desafios. No caso do Lobo das Redes a
estratégia é sempre começar curtindo as postagens da presa escolhida. A etapa
seguinte é fazer comentários frequentes e de preferência espirituosos. Depois de fincar bandeira na timeline da futura parceira ele
faz uma chamada inbox, a propósito de algum tema levantado por ela na
rede. Se a outra parte corresponder e mantiver a
conversação por mais de cinco diálogos o
Lobo despe a pele de cordeiro e parte para o ataque. Um ataque matreiro, com questionamentos aparentemente inofensivos,
tipo hábitos após o trabalho, indicações
de onde encontrar um bom sushi, preferencias musicais, gastronômicas e etílicas.
Conversas sobre cães e gatos sempre funcionam. Um bom estoque de frases de Caio
Fernando Abreu, Arnaldo Jabor, Cora Coralina, Clarice Lispector, mesmo que de
autoria duvidosa, também ajudam. Daí para o convite para aquele encontro é só
questão de tempo e aí a vida seguirá seu curso. Mas nosso amigo faz um alerta: nestes tempos
de radicalismo é vital saber se a moça é simpática aos petralhas ou aos
coxinhas. São raros os casos de convivência
pacifica entre as duas espécies, e um obstáculo para que esse esperto lobo torne
realidade seu slogam: "Meu negócio é
curtição!"
O narrador já ia emendar mais um perfil, o do
sujeito que decidiu investir nos shows de musica gospel, acreditando firmemente
que o recato das crentes pode esconder uma energia erótica a ser explorada e compartilhada,
mas aí já outra história.
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