domingo, 26 de julho de 2015

Tudo começou com dona Mimi

Dona Mimi e um curso nas lojas Guaspari. Olha o fogão Wallig ali

Sou do tempo em que programa de culinária era com a dona Mimi Moro (1894-1977), na antiga TV Piratini. O programa era Cozinhando com Dona Mimi,  em preto em branco, com uma equipe de produção  muito criativa para compensar as carências técnicas da época.  As panelas fumegando, por exemplo, eram focadas através de um espelho colocado acima do fogão, um Wallig, por certo. No fim do programa, a equipe devorava as guloseimas preparadas pela dona Mimi, num tempo em que as frituras não eram demonizadas como hoje.

Coube ao Anonymus Gourmet, que os seus contemporâneos jornalistas conhecem como Pinheirinho, dar continuidade à atividade gastronômica na televisão gaúcha, primeiro na RBS e agora no SBT. Eventualmente cruzo com ele no Calçadão de Ipanema, trocamos amabilidades e uma ou outra vez deixei registrada a minha inconformidade por ele rejeitar o potencial culinário da berinjela, no que recebo o convicto apoio da simpática esposa dele.

Contar com apenas uma atração gastronômica televisiva é quase nada diante do quadro que se constata hoje na grade de programação dos canais abertos ou pagos. A oferta de programas tem opções nacionais, de Ana Maria Braga à Carolina Ferraz, passando por Rita Lobo e Bela Gil, e internacionais, como a inglesa Lorraine Pascale e a neozelandesa Annabel, e mais um naipe masculino com uma comissão de frente, com e sem sotaque, formada por Rodrigo Hilbert (o maridão da Fernanda Lima), Claude Que Marravilha Troisgos, o padeiro Olivier Anquier e o inglês Jamie Oliver, que parece salivar quando apresenta suas comidinhas. Por fora corre o fenômeno food truck que começa a também ganhar espaço na TV.

O último levantamento indicava 67 programas no ar. Até reality show tem, o MasterChef que está na segunda edição, no qual os telespectadores podem acompanhar a transformação de um cozinheiro amador em um chef profissional.  É um dos carros chefes da programação da Band, que garante um premio de R$ 150 mil ao ganhador para ele abrir seu próprio negócio.  E o SBT investe num reality de confeitaria intitulado Bake Off Brasil – Mão na Massa, que reúne em horário nobre 12 competidores pelo título de melhor confeiteiro amador do país.

Se existe oferta é porque tem demanda – e patrocínios comerciais -,  o que explica a profusão de programas e até mesmo um canal dedicado exclusivamente à culinária, o ChefTV . Pode ser modismo, mas acredito que a gastronomia televisiva veio para ficar, uma vez  que reúne alguns ingredientes  presentes com muita força nestes tempos hedonistas: apresentadores que fazem o estilo de celebridades, ambientes  glamorosos, disputas nos reality shows e prazer envolvendo uma necessidade básica, a alimentação. E assim já disputa espaço nobre com as novelas e as coberturas esportivas.

Toda essa onda provocou a mais profunda mudança nos hábitos alimentares desde que o homem descobriu o fogo e passou a utilizá-lo no preparo da sua nutrição. Agora o prazer da comida passou da mesa para o fogão e deste para a TV, tornando mais verdadeira do que nunca a expressão popular “comer com os olhos”.  Dona Mimi Moro certamente não imaginaria tanto

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