As campanhas eleitorais não produzem apenas o efeito eventual e nefasto de escolher gestores públicos incompetentes e/ou
corruptos, mas também o de ensejar parcerias amorosas que se revelarão
desastrosas para uma das partes ou mesmo as duas. Foi o que aconteceu com minha
amiga Luzia que se enamorou do Alemão durante uma campanha majoritária da qual
também participei. Eu seria capaz de
jurar que era amor eterno tal o arreganho entre eles.
Nosso candidato venceu bem a eleição e depois fiquei
longo tempo sem contato com Luzia. O reencontro
se deu na mesa ao lado, num dos eventos que tenho frequentado. Indiscreto como só eu, pergunto como estava a
relação com o Alemão, imaginando-a tão bem sucedida como o resultado eleitoral
do candidato.
- Aquele traste? Tu não imaginas do que ele foi
capaz!
Já estava me arrependendo da provocação, quando a
moça passou a relatar sua desdita, vivida intensamente com o Alemão,
- Fiz coisas que jamais imaginei enquanto estivemos
juntos. Viajei até o Rio de van, me hospedei em hotéis de quinta categoria na
beira da estrada, tomei banho em banheiro de posto de gasolina. Cheguei ao
fundo do poço quando passei a frequentar a casa dele numa vila na Região
Metropolitana.
Fiquei
sinceramente penalizado com o desabafo, mas evitei cortar a conversa
porque ela estava funcionando como uma catarse. E Luzia,
moça prendada e bem colocada no ranking das caldáveis, prosseguiu:
- Ele morava numa peça nos fundos de uma casa na tal
vila. Não era a casa dos fundos, mas só um puxadinho. Pergunta se tinha cama? Não, não
tinha. Era um colchão no chão. Mas aquele colchão serviu por um bom
tempo, até que...
Houve uma pausa, senti que Luzia hesitava talvez
lembrando alguns bons momentos proporcionados por aquele colchão do puxadinho e
quase deixei escapar um “conta logo”,
mas me contive, até que ela arrematou:
- Apesar de toda a minha entrega, de todas as minhas
demonstrações de amor, o traste cretino me corneava e depois me deu o fora. Ele
me deu o fora! Eu devia ter ouvido o meu pai que dizia que o sem vergonha não prestava pra mim. Me deixei enganar por
aquele xalalá dele, de que a gente formava um lindo par...
Fiquei comovido com a história e meu olhar
transmitiu toda minha solidariedade à jovem enganada, enquanto Liliane, amiga
comum que compartilhava aquele momento confessional, aproveitou ela para fazer
uma revelação.
- Já passei por situações semelhantes quando namorei
um músico. O cara até tinha bom nível, mas estava sempre sem grana eu é que
bancava a comida após os shows. Ele adorava um X-bacon.
Tenho minhas dúvidas se um sujeito que aprecia
X-bacon pode ser enquadrado na categoria de bom nível, mas enfim, assim é o
amor. Ah, o amor ! Quantas barbaridades são cometidas sob o teu manto! Quem
nunca?
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