Estávamos a
destrinchar um galetinho ao primo canto quando a valente Marivalda propôs dois
desafios. Os comensais faziam parte de
um grupo seleto de pessoas, homens e mulheres com grandes responsabilidades
sociais e todos foram apanhados de surpresa com os questionamentos da audaciosa
colega. Vocês não podem ver mas fico ligeiramente ruborizado ao repassar os
desafios propostos, ambos dirigidos ao naipe masculino.
- O que vocês fariam se numa situação transgressora,
no quarto de um motel, a parceira visse a falecer? E o que fariam se, na volta de uma viagem,
caísse da mala em frente à esposa uma
calcinha com todos os indícios de que fora usada?
Dois assuntos escabrosos que exigiram complexas
argumentações e as mais variadas saídas para tais incidentes. No primeiro caso, houve quem
dissesse que fugiria depressa do local, talvez para o exterior, deixando o
corpo da parceira no quarto. Outro
achou que a melhor solução seria vestir a moça, colocar no carro e invadir com
estardalhaço a emergência do hospital afirmando que encontrara caída na rua e
depois sairia de fininho. Um terceiro
garantiu que se simulasse um ataque cardíaco na hora da chegada do socorro
talvez desviasse a atenção do ocorrido com a acompanhante e não precisasse dar
muita explicação. Entretanto, a melhor
saída veio do Túlio, que assumiria sua participação no episódio com uma frase tão
definitiva como consagradora:
- Matei ela
de prazer!
No segundo caso – o da calcinha inconveniente – sucederam-se desculpas inconvincentes de todos
os marmanjos, sinal de quem nenhum deles
havia sequer enfrentado situação
semelhante. É que uma ocorrência limite
dessas exige ousadia e criatividade, que foi como propôs o Cacaio:
- Eu confessaria que a calcinha era minha, porque
era um enrustido, mas que continuava a amar minha mulher, bla,bla,bla, sabe como é, estamos na era de todas as
formas de amor...
A saída não ganhou a unanimidade, mas sou obrigado a
convir que não surgiu nada melhor à mesa. Foi então que a Marivalda, assumindo
sua porção lambisgóia, contra-atacou:
- E se a mulher aproveitasse a ocasião resolvesse
abrir o jogo e confessar que ela era sapatão e tinha um caso com sua melhor
amiga?
Um silencio constrangedor caiu sobre a mesa e o
franguinho passou a ter um gosto indigesto. A mesa ao lado já não era mais a
mesma diante da possibilidade aventada.
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