Havia ensaios preparatórios e as grandes escolas
passavam as semanas afinando os dobrados das suas bandas marciais que puxavam o
desfile da gurizada. Lembro-me de um ano em que os alunos da quarta série
ginasial do Colégio Rosário desfilaram pela avenida Farrapos de terno e
gravata, sinalizando a formatura breve.
E lá fui eu, com meu surrado terno domingueiro, marchando nas primeiras
filas, maldizendo quem tivera aquela ideia.
Havia uma saudável disputa entre as bandas marciais.
A do Rosário competia fortemente com a das Dores, que sempre foi considerada a
mais qualificada. Mas havia outras também afamadas como a do Colégio São João,
a do Julinho, até onde alcança a
memória.Na frente de todas perfilava-se o Mor da Banda, uma espécie de maestro, e eventualmente um naipe de alunas com suas sainhas, pernas de fora e acrobacias , imagens perturbadoras para aquele bando de adolescentes. Depois vinham os instrumentistas - muitos metais e percussão. Os novatos começavam tocando pífaros, o que até tentei no Rosário, mas descobri que não tinha a mínima vocação. Foi uma pena, porque o pessoal da banda tinha algumas regalias, eram bem avaliados pelos professores e aqueles uniformes de soldadinhos de chumbo chamavam a atenção das meninas. A mim restou o surrado terno domingueiro...
Hoje poucas bandas marciais resistem e até a
chamada Parada da Mocidade se resume a uma aglomeração de escolas infantis desfilando nos seus
bairros, com muito entusiasmo e pouca produção visual. Não se fala mais em
civismo ou patriotismo e até o termo Mocidade caiu em desuso, ficando restrito
às escolas de samba ou segmentos jovens de alguns partidos. Hoje a moda é falar em Geração X, Y, Z e não
me surpreenderia se os desfiles voltassem a ser realizados e a gurizada
passasse garbosa pela avenida tuitando seus IPads.
Sinal dos tempos,
de modernidade sem volta. Mas
permitam-me curtir minha nostalgia, de um tempo em que o grande dissabor do
menino que um dia fui era desfilar com o surrado terno domingueiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário