As palavras, como as pessoas também tem prazo de
validade. Depois de um certo tempo envelhecem e por fim saem de circulação. Um
exemplo é carestia que virou custo de vida, que hoje conhecemos por inflação.
Um exemplo mais charmoso é meio ambiente que já foi ecologia, ou vice versa, e
hoje chamamos de sustentabilidade. Claro
que estou tratando das palavras em seu sentido mais amplo e bota amplo nisso.
Os nomes próprios também têm seus períodos de glória
e depois vão para o limbo. Conheci pelo
menos dois Telemacos, o mesmo número de Bartolomeus, alguns Baltazares, sem
contar os Alcebíades, os Diamantinos e mesmo os Pafuncios mas imagina a vaia a quem tentar hoje
registrar o filho com esses nomes. Agora
tem que ser Jeferson, Rafael, Rodrigo, Sandro, Gustavo e por ai vai, sem entrar
na área dos Michael, dos Maicon e seus assemelhados. Pouparei o naipe feminino dessa digressão.
Manifestantes de qualquer causa agora constituem
movimentos sociais, que não podem ser criminalizados conforme apregoam. Nos
tempos em que militava na imprensa – que hoje virou mídia – se escrevesse essas
palavras difíceis, como criminalizar, e
recém incorporadas ao vocabulário levaria uma mijada do editor. A propósito, o
termo militava me lembra que militante
ganhou um novo apelido: agora é ativista, com respectivos apêndices –
cicloativista, por exemplo.
Fazem parte da nova geração de palavras todos esses
termos derivados e fomentados pelo mundo digital: migrar, deletar, blogar,
tuitar, suitar, o internetês em geral. E tem ainda o demanda, o
empoderamento, o modelar, o protocolizar, o gestionar, legados das modernas estratégias
de gestão. Interessante é que a maioria não é reconhecida pelo corretor do
Word, recebendo por isso aquela ondinha em vermelho por debaixo.
Não sou contra a movimentação e a renovação linguística. Mas acho
que foi a associação dos acadêmicos, especialmente os sociólogos, com os
sindicalistas que produziu esse linguajar típico das lideranças mais atuantes e
com viés à esquerda. Foi uma espécie de agendamento de discurso, que ganhou um
verniz pela influência acadêmica e uma ênfase pelo estilo e aderência popular
ao discurso dos sindicalistas, mesmo os de língua presa. Ou seja, uma eficaz
simbiose entre forma e conteúdo.
A verdade é que os bordões, de tanto serem
repetidos, acabaram incorporados pela
mídia que dão expressão e alcance aos mesmos. A reflexão que deve ser feita é
se esses modismos linguísticos enriquecem ou empobrecem o idioma. O pior dos cenários é quando os que não sabem
o que estão falando empregam as palavras novas e não consolidadas fora de seu
contexto. De minha parte, sou pela
simplicidade e por tudo o que facilite a comunicação. É a minha expertise, com
o perdão pela contradição.
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