domingo, 14 de julho de 2013

Palavras

As palavras, como as pessoas também tem prazo de validade. Depois de um certo tempo envelhecem e por fim saem de circulação. Um exemplo é carestia que virou custo de vida, que hoje conhecemos por inflação. Um exemplo mais charmoso é meio ambiente que já foi ecologia, ou vice versa, e hoje chamamos de sustentabilidade.  Claro que estou tratando das palavras em seu sentido mais amplo e bota amplo nisso.

Os nomes próprios também têm seus períodos de glória e depois vão para o limbo.  Conheci pelo menos dois Telemacos, o mesmo número de Bartolomeus, alguns Baltazares, sem contar os Alcebíades, os Diamantinos e mesmo os Pafuncios  mas imagina a vaia a quem tentar hoje registrar o filho com esses nomes.  Agora tem que ser Jeferson, Rafael, Rodrigo, Sandro, Gustavo e por ai vai, sem entrar na área dos Michael, dos Maicon e seus assemelhados.  Pouparei o naipe feminino dessa digressão.

Manifestantes de qualquer causa agora constituem movimentos sociais, que não podem ser criminalizados conforme apregoam. Nos tempos em que militava na imprensa – que hoje virou mídia – se escrevesse essas palavras difíceis, como criminalizar,  e recém incorporadas ao vocabulário levaria uma mijada do editor. A propósito, o termo  militava me lembra que militante ganhou um novo apelido: agora é ativista, com respectivos apêndices – cicloativista, por exemplo.

Fazem parte da nova geração de palavras todos esses termos derivados e fomentados pelo mundo digital: migrar, deletar, blogar, tuitar, suitar,  o internetês  em geral. E tem ainda o demanda, o empoderamento, o modelar, o protocolizar,  o gestionar, legados das modernas estratégias de gestão. Interessante é que a maioria não é reconhecida pelo corretor do Word, recebendo por isso aquela ondinha em vermelho por debaixo.

Não sou contra a movimentação e a renovação linguística. Mas acho que foi a associação dos acadêmicos, especialmente os sociólogos, com os sindicalistas que produziu esse linguajar típico das lideranças mais atuantes e com viés à esquerda. Foi uma espécie de agendamento de discurso, que ganhou um verniz pela influência acadêmica e uma ênfase pelo estilo e aderência popular ao discurso dos sindicalistas, mesmo os de língua presa. Ou seja, uma eficaz simbiose entre forma e conteúdo.


A verdade é que os bordões, de tanto serem repetidos,  acabaram incorporados pela mídia que dão expressão e alcance aos mesmos. A reflexão que deve ser feita é se esses modismos linguísticos enriquecem ou empobrecem o idioma.  O pior dos cenários é quando os que não sabem o que estão falando empregam as palavras novas e não consolidadas fora de seu contexto.  De minha parte, sou pela simplicidade e por tudo o que facilite a comunicação. É a minha expertise, com o perdão pela contradição.

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