Diferente do meu
bom amigo Poti Campos, gostei muito do filme Hemingway&Martha, com Clive
Owen no papel do escritor e a bela Nicole Kidman como sua parceira. Consumidor voraz de DVDs sou atento à cena
cinematográfica e não lembrava do lançamento no circuito dos cinemas do filme
dirigido por Philip Kaufman até
descobrir que é um telefilme produzido pela HBO, o que o valoriza ainda mais,
pois se trata de uma produção bem cuidada para os padrões televisivos.
O interessante do
filme é que resgata a figura de Martha Gellhorn.
É sob o ponto de vista dela que a história é contada. Gellhorn e Hemingway se
conhecem em um bar. Ambos partem para a Espanha em guerra civil por motivos
diferentes. Ele acompanha uma equipe de gravação de um filme em favor dos
republicanos (The Spanish Earth) e ela como correspondente iniciante da
revista Collier’s. Ali iniciam um romance que continua ao retornarem aos
Estados Unidos. Casam-se após Hemingway obter o divórcio de Pauline Pfeiffer,
sua segunda esposa. Ela prossegue sua carreira cobrindo a Guerra Russo-Finlandesa
e a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Ambos vão
a Europa em guerra e lá Hemingway conhece a também jornalista Mary Welsh, que
se tornaria sua quarta esposa.
O filme revela um Hemingway
ainda mais beberrão, necessitado sempre mais de exercer sua masculinidade (as
cenas eróticas merecem um “uau”; e que
belo e bem torneado calipigio tem dona Nicole!), ao mesmo tempo em que se
afirma católico por conveniência - influência de Pauline. Gellhorn aparece como o lado mais forte do
casal, sempre em busca de uma guerra para cobrir e aí se estabelece a
competição entre os dois, que leva ao
rompimento. Profissionalmente eles vão ao encontro dos conflitos e o conflito
acaba se instalando entre eles.
No auge do romance, o casal
convive com o incensado escritor americano John Dos Passos que durante a guerra
civil espanhola se apaixona pelo jovem Paco Zarra, interpretado pelo nosso
Rodrigo Santoro. Convivem também com figurões como o presidente americano
Franklin Roosevelt e sua Eleanor (no filme, numa montagem à Forrest Gump), o chinês Chang Kai-Chek (que aparece como um
general dominado pela mulher), além revolucionários comunistas chineses.
O mérito de Hemingway&Martha está também em registrar
um recorte das principais guerras do século 20, da Guerra Civil Espanhola à da
Croácia. Mostra, por exemplo, como os
russos participaram ativamente das brigadas internacionais espanholas, a
ascensão do nazismo e do fascismo os horrores praticados pelos japoneses na
China, a crueza do Dia D e por aí vai.
O diretor apela para um efeito
que entendi como uma forma de distinguir o que é registro histórico, cenas em
tom sépia, da ficção, num belo colorido. Pro meu gosto, funcionou.
Por tudo isso, eu que já era
fã do autor de O Adeus às Armas, Por quem Dobram os Sinos, O Velho e o Mar,
fiquei ainda mais inspirado pela figura do irrequieto escritor, beberrão sim, inconstante,
sim, mas que não se contentava em apenas registrar a história, mas deixava sua
marca como protagonista dos acontecimentos em que participava.
Desculpe, Poti, mas tirante a duração (2h34min), gostei muto de Hemingway&Martha.
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