Ser chefe tem lá suas inconveniências. Uma delas é
que a chefia acaba se envolvendo em problemas particulares de seus subordinados
também conhecidos como “os colaboradores da firma”. Eis que estava tentando
desentortar um dos tantos pepinos funcionais do meu dia-a-dia quando sou procurado por dedicado
companheiro. Dedicado demais, eu diria,
mas não apenas as suas atividades laborais, mas também as artes amorosas. O
sujeito apresentava um passado de conquistas de causar inveja a seus pares.
Pois foi quase choroso que ele relatou-me que estava
sendo pressionado por duas colegas que insistiam em saber quem era sua última
conquista. E para isso não mediam esforços que iam desde bisbilhotamentos no seu
perfil no Facebook à ameaças de
espalharem para toda a firma que estava pulando a cerca.
- Já não sei mais o que fazer. As duas estão
bancando as detetives e nem na hora do almoço tenho sossego. Minha vida virou
um inferno, um inferno.
Juro que percebi seus olhos marejados e confesso que
minha natureza comprometida com a harmonia e meu culto a fidelidade me
complicam na hora de lidar com esses assuntos. Além disso, conheço bem as duas bisbilhoteiras, queridas moças expansivas, e sei que agem mais pelo prazer de se
confrontarem com a verdade do que pela condenação da relação ou maldade para
com o colega.
- Veja bem, a natureza humana é assim mesmo...,
emendei para ganhar tempo em resposta ao seu apelo.
E completei com um repertório de frases feitas, tipo
auto-ajuda, na tentativa de recompor o ânimo do companheiro. Não sei se ajudou,
mas ao fim e ao cabo, achei que ele saiu da conversa mais animadinho.
- Se eles sonham quem é..., despediu-se enigmático.
Eu que conheço a tal parceira diria o mesmo, mas
espero que as duas detetives não descubram que sei do segredo. Aí a minha vida é que vai virar um inferno.
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