Depois
de ter dormido nas exibições dos maus filmes indicados pelo seu o Coisinha, proprietário da
minha locadora, escolhi para a sessão de sábado Habemus Papam, da Nanni Moretti.
Tinha lido boas críticas a respeito e estava
curioso para assistir ao filme e não me arrependi.
Nessa comédia dramática,
o conclave se reúne no Vaticano para escolher um novo papa. Após várias votações, enfim há um
eleito, o cardeal Melville. Os fiéis, amontoados na Praça de São Pedro,
aguardam a primeira aparição do escolhido (Michel Piccoli), mas ele não vem a
público por não suportar o peso da responsabilidade, e entra em pânico depois
de um faniquito. Tentando resolver a
crise, os demais cardeais resolvem chamar um psicanalista, interpretado pelo próprio
Moretti, para tratar o novo Papa, que acaba sumindo em Roma, período em que aflora o seu lado mais sensível, o de ator
frustrado.
A proposta
do filme é tentadora, instigante até, como diria um amigo cinéfilo. Como
católico desgarrado sempre me interessei pelos assuntos do Vaticano, sou quase um vaticanista, mas de certa forma fico contrafeito com aquela pompa e
circunstância, os rituais de realeza que contrastam com pregação de que é aos
pobres que está destinado o Reino dos Céus.
Diferente
de Habemus Papam outros filmes recentes sobre o que acontece no Vaticano são mais
incisivos em desnudar as mazelas da milenar Igreja Católica. Um bom exemplo é
Poderoso Chefão III, nem tanto Anjos e Demônios.
Já o filme de Moretti é repleto de alegorias, que permitem variadas
interpretações. O que significa, por exemplo, o impensável e hilário torneio de
vôlei organizado pelo psicanalista no Vaticano, reunindo os veteraníssimos
cardeais? É tudo um jogo? Interessante também o perfil de do novo Papa de Moretti. Fisicamente lembra João Paulo II (que fez
teatro quando jovem), mas com a sensibilidade de seu antecessor, João Paulo I,
que morreu apenas 30 dias após ter assumido o trono de São Pedro, porque não
teria resistido ao peso do papado.
É disso que trata Habemos Papam , um
filme sobre a opressão que o poder exerce sobre os que não estão preparados
para ele. O poder não foi feito para os sensíveis, mesmo que haja um deus a
protegê-los e guiá-los. Quantas vezes
nos sentimos miseravelmente pequenos diante da grandeza dos desafios que nos
são impostos? E quantas vezes, diferente do que ocorreu com o personagem de
Habemos Papam, fomos compelidos à luta, sem direito a renúncia, que é um misto
de covardia e humildade, mas também exige uma boa dose de grandeza.
O final é emblemático. O escolhido pelos prelados renuncia antes mesmo de assumir, enquanto os cardeais
escondem o rosto. É uma Igreja perplexa, envergonhada, constrangida, o que resta,
tudo a ver com a Igreja dos escândalos que tem vindo a tona e que a cada dia perde mais e mais fiéis.
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