De repente, o Rio Grande amado descobriu que não é mais o maioral, que aquela história de que
somos brasileiros diferentes dos lá de cima, de que as nossas lideranças são as
melhores, de que aqui é o lugar dos fortes e justos, enquanto o resto ou é a
chatice e soberba dos paulistas ou a carioquice dos demais, que tudo o que nos
orgulhava pouco a pouco foi corroído. Nunca antes na história deste Estado nossa auto estima esteve
tão baixa.
O golpe mais recente no nosso orgulho ocorreu com a
divulgação dos índices do IDEB, que colocam o ensino público gaúcho em
patamares medíocres, logo nós que sempre nos vangloriamos da qualidade do nossa
educação, desde Brizola até recentemente o governo Rigotto quando recebemos o
reconhecimento de melhores do Brasil na avaliação da Unesco. Em apenas seis
anos afundamos para os níveis atuais.
Já havia pressentido a derrocada gaúcha quando descobri que
a melhor carne para o nosso churrasco dominical, aquele costela suculenta ou a
picanha tenra, era importada do Brasil do Centro Oeste, terra de índios e
duplas sertanejas na nossa percepção equivocada. Pior, o honesto churrasco
assado em espetos está sendo substituído pelos grelhados, não sei se por
influência paulista ou platina. Mas já ouvi de um ex churrasqueiro de fé,
eu disse ex, que “esse negócio de assar carne no espeto é churrasco medieval”.
Invoco a infâmia
perpetrada contra a tradicional gastronomia gaúcha para tirar da cartola uma
tese da hora, que é a seguinte: nossa baixa auto estima terá como consequência
grandes comemorações farroupilhas, para compensar, com o culto a um passado que
seria glorioso, um presente que nos deixa cabisbaixos.
Vou aproveitar e emendar outra tese. A culpa de tudo
seria do grenalismo que se instalou nas instâncias públicas de nosso estado,
retardando projetos importantes em nome de sectarismos partidários, dificultando
conquistas porque a ideia partiu de um adversário político, impedindo avanços
porque os dividendos irão para outra facção, colocando interesses pessoais – e
pequenos – à frente dos interesses de todos.
Se no futebol a rivalidade não deixa de ter seu lado
benéfico porque obriga o adversário a se superar, no âmbito público, que
deveria privilegiar o bem comum, essa beligerância permanente é nefasta e joga todos nós para baixo. E
leva o Rio Grande, que agora é grande só no nome, ao divã do analista para
entender o que aconteceu. Até parece que estou ouvindo: "Doutor, quero ser grande de novo!".
Quando eu era guri, não se tomava chimarrão nas ruas da Capital. Era coisa de grosso. Aos poucos, a cultura do mate, das pilchas, foi avançando na cidade que nem tão grande era e não temos mais vergonha destes costumes. Um gauchismo saudável, mesclado de simpatias entre o antigo e o moderno.
ResponderExcluirAcontece que ao mesmo tempo, recrudesceu um sentimento reacionário tradicionalista que trancou porteiras, fixou regras ao ponto de proíbir a peões e prendas, por exemplo, a troca dos mais singelos carinhos em seus galpões abafados. É a grossura impregnada de ranço e preconceito, que divide raivosamente os gaúchos entre facções que não se unem nem para defender projetos importantes, lá no Planalto Central.
Isso sim, é coisa de grosso. Ficamos isolados, sem educação, saúde, circulando em estradas onde o que duplicaram foram as praças de cobrança, não as pistas. Todo governante, ao assumir - isso é incrível - enfrenta oposição fora e dentro de sua própria base aliada, porque todos, se acham donos e autores das soluções para nos tirar deste assustador andar para trás, como se todos estivéssemos contaminados por um vírus nativista que nos remete à pampa pobre que herdamos de nossos pais, se me permite a citação, o Gaúcho da Fronteira. E não é essa a herança que pretendo deixar, já tão perto dos 60 anos, às futuras gerações.