Não foram poucas as vezes em que ouvi esta afirmação lá em casa:
- Este menino trabalha
no Correio do Povo!
Era o coronel Dastro,
meu pai, brigadiano de formação, orgulhoso do filho jornalista e exibindo-se
para os visitantes. Nem eu era mais um menino,
nem trabalhava no Correio do Povo. Na
verdade, eu escrevia na extinta Folha da Tarde ou atuava na Rádio
Guaíba, também na antiga Caldas Junior, mas quem tinha prestígio mesmo junto ao
velho senhor era o Correião, já centenário
à época.
Nas primeiras vezes
tentava timidamente repor a verdade diante das visitas, às vezes constrangidas
com a revelação, outras vezes compartilhantes do orgulho de um pai com seu
filho. Com o tempo, deixei transitar sem desmentido aquele emprego honorário em
que o coronel Dastro insistia em me colocar. Que mal havia nisso? Entretanto, jamais trabalhei no Correio do
Povo e, assim, menos para o meu pai, ficou uma lacuna na minha carreira, pontuada
pela participação nos principais veículos de comunicação de Porto Alegre, em alguns casos, mais de uma vez.
Também nunca tive
matéria editada na afamada revista Ícaro, da antiga Varig, mas houve um tempo em que recebia muitos elogios pela autoria de textos e fotos naquela
publicação. Só que a minha relação com a Ícaro era apenas de leitor, um leitor
invejoso das qualificadas participações do jornalista e professor Flávio
Dutra. De início, tratava
logo de desmentir a autoria. Com tempo passei a não negar e também
não assumia ser o autor, limitando-me a um sorriso de satisfação, até para não
frustrar o interpelante. Sorry, tocaio.
Porém, nem tudo
é elogioso na relação com meu homônimo.
Já fui xingado por posições políticas dele, como se fossem minhas e, pelo que
sei, nem somos muito alinhados nesse caso. Outra situação, menos polêmica e que
já descrevi em outro texto mas vale repetir, envolveu um querido amigo que,
vendo anunciado na mídia uma
exposição do Flávio Dutra, compareceu ao
vernissage,
Chegando cedo,
acompanhado da mulher, estranhou não conhecer os outros presentes
(“Imaginava que o Flávio Dutra tivesse amigos mais fiéis”, admitiu que pensou
na ocasião) e ficou aguardando, entre drinques e canapés, a chegada
do principal personagem do evento. O tempo foi passando e nada do
Flávio Dutra aparecer. Duas taças de vinho e meia dúzia de
salgadinhos depois, nosso amigo se animou a perguntar: “E
o Flávio Dutra quando chega?” Foi então que descobriu que dono daquele espaço e
momento, era o Flávio Dutra artista, que já se encontrava há muito
tempo no recinto, recebendo os merecidos cumprimentos pela mostra fotográfica.
Só restou ao bem intencionado intruso também cumprimentar o autor e sair de
fininho antes que a gafe fosse ampliada.
Hoje, só o que me causa
constrangimento é ser chamado de
escritor ou de cronista. Sou um mero blogueiro que transforma seus
textos em livros. Juro que não é falsa modéstia.
Se ao menos publicasse minhas crônicas no Correio teria as benções, de onde
quer que se encontre, do orgulhoso coronel Dastro.
General Dutra, parabéns pelo belo texto mais amarrado, costurado que boca de sapo em sexta_feira 13... Quebra-costelas
ResponderExcluirValeu, comandante. Nada como uma opinião qualificada.
ResponderExcluirMazah! Nada mais natural do que aprender com quem sabe... eh eh eh. Belo relato.
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