* Publicado nesta data em coletiva.net
Dia desses um
experiente repórter radiofônico usou “requintes de crueldade” para descrever a
ação de assassinos no litoral norte. “Requintes de crueldade”, há quanto tempo não ouvia essa expressão? Tanto quanto
“riqueza de detalhes”, outra forma de valorizar um relato em seus pormenores e
que tenho ouvido com frequência em AM e FM. Só que requinte e crueldade são
palavras tão dissonantes entre si que, a
rigor, não deveriam ser combinadas, diferente de riqueza e de detalhes que se
harmonizam bem como vinho tinto e carnes vermelhas.
Requinte é sinônimo de
sublime, nada a ver com atrocidade, maldade, perversidade que significam
crueldade. Espero não estar enganado, mas acredito que esse é um dos raros
exemplos destoante desses termos clichês que usamos com frequência para descrever
situações . Provavelmente, herdamos esses vícios dos noticiários mais antigos
da mídia. Sou um saudosista confesso dessas
expressões por passarem exatamente o que se quer dizer e imprimem um quê de
brilho, grandiosidade ou dramaticidade à dupla substantivo mais adjetivo e, às
vezes, advérbio. Nada mais lastimável
que “lastimáveis acontecimentos”; e o que dizer das climáticas “chuvas
torrenciais” e “calor senegalesco” ?; e o confronto entre os “intrépidos agentes
da lei” e os malfeitores “fortemente armados”, mas que fugam em “desabalada
carreira”; e aquelas “polpudas verbas”, que se perdem na burocracia e na
corrupção?; tudo isso é de “vital importância”, a merecer uma “crítica
construtiva”. O futebolês de antigamente
era prenhe desses termos, mas particularmente gostava muito do “ponteiro
expedito”, sempre ágil na definição das jogadas.
Os puristas do estilo
recomendam economia nos adjetivos e parcimônia nos advérbios para a construção
de um “texto escorreito”. Já eu acho que
adjetivos e advérbios foram feitos para ser usados, mas têm sido vítimas de uma
“discriminação odiosa” para adotar outra expressão na medida para o caso. Entre
forma e conteúdo, prefiro o que garanta a clareza do que precisa ser
transmitido.
Pra não dizerem que
não falei em eleição, desejo ao prefeito
eleito de Porto Alegre, Sebastião Melo, com sua “estrondosa vitória” uma
“calorosa recepção” no dia da posse, em que pode estar “visivelmente
emocionado” com a “alegria contagiante” de todos, num ambiente “feericamente
iluminado” e que durante o seu governo não cometa “erros grotescos” de gestão, evitando “obras
faraônicas” e feche o mandato com “chave de ouro” na aprovação popular.
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