domingo, 10 de julho de 2016

Histórias Curtas do ViaDutra: Aliança de Ocasião

Andressa e Giuliana nada tinham em comum, exceto por uma circunstância – namoravam a mesma pessoa – e um detalhe – tinham dentes irregulares. O tal detalhe estético incomodava mais a ambas do que o compartilhamento do sujeito, compartilhamento que só tiveram conhecimento por acaso, quando ele desfilava com uma delas e acabou encontrando a outra pelo caminho.

É difícil reproduzir o que aconteceu, mas testemunhas confiáveis revelam que as duas se miraram firmemente, um estudo de alto a baixo e de imediato criaram uma inesperada empatia, enquanto o acompanhante estaqueava pela surpresa do encontro. Mais tarde, o rapaz alardeava que ele, por seu carisma, teria sido o amálgama que uniu aquelas criaturas que deveriam ser antagonistas.

Na verdade, o que aproximou as duas foi aquela vontade de revidar a traição simultânea dele e a afronta de se descobrirem infidelizadas assim, à luz do dia, com testemunhas e tudo. Estabeleceu-se então um diálogo que levou a novas descobertas e mais munição contra ele:

- Tu sabias que um dos fetiches dele era transar comigo vestindo apenas as botas? -, atacou Andressa.

- Pois nem te conto os pedidos que ele já me fez. Assunto escabroso -, devolveu Giuliana,

- Certa vez, dentro do carro, a caminho da minha casa...

- O quê? Ele te levava em casa? O sacana nunca fez isso comigo, ao contrário, usávamos o meu carro nas saídas que fazíamos.

O alvo da metralhadora de críticas nem piava, mas intimamente regozijava-se com o duelo verbal das namoradas.

- Já me chamou de dentuça e vesguinha -, acusou Andressa.

- A mim só de dentuça -, minimizou Giuliana.

- Até o meu aniversário já esqueceu, o farsante!

- Comigo aconteceu parecido, trocou a data e me cumprimentou dois dias depois!

- E sempre encontrava uma ¨amiga¨ faceira nos restaurantes que frequentávamos.

- Flagrei várias vezes espichando o olho para uma periguete que passava, sem contar as mensagens que recebia e não me deixava ver.

- E quando atendia o telefone, em pleno bem bom!

- Bah, é verdade, tinha um sujeito que ligava sempre quando a gente estava começando a esquentar.

A conversação durou ainda um bom tempo, com um desfile de reprovações ao pobre homem, que não ousava intervir, mas continuava curtindo intimamente aquela devoção em forma de ressentimentos.

Afinal, despediram-se e cada um seguiu seu caminho, elas marcando encontros futuros e ele esperando, na expectativa para saber qual delas ligaria primeiro.

- Nem um inimigo comum consegue unir duas mulheres  nessas circunstâncias -, ensinou. Era uma aliança de ocasião. Daqui a pouco uma delas vai ligar para criticar a outra

Eis que toca o celular dele...e na espera já havia sinal de outra ligação...

A verdade é que o esperto conhecia profundamente a natureza humana, especialmente na sua versão feminina.

(Quem relatou o acontecido jura que é baseado em fatos reais)
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